sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Igreja da Inglaterra considera usar gênero neutro em referências a Deus



A Igreja da Inglaterra, matriz da Comunidade Anglicana, anunciou que quer explorar o uso de palavras alternativas para descrever Deus, depois que alguns clérigos pediram para usar uma linguagem mais inclusiva nos cultos.

O domínio do gênero masculino para se referir a Deus é um tema que vem sendo discutido cada vez mais. A teóloga feminista Mary Daly escreveu: “Se Deus é homem, o homem é deus”.

Em outras palavras, falar sobre o Deus cristão em termos exclusivamente masculinos privilegia os homens na sociedade e sustenta o domínio masculino.

De acordo com um porta-voz da igreja, Deus não tem gênero para a doutrina cristã oficial. No entanto, “Ele” é descrito quase exclusivamente em termos masculinos. E como a Igreja continua a lutar com questões de igualdade de gênero, o projeto provavelmente tende a se estender.

Críticos veem a discussão como uma tentativa de desfazer a longa tradição cristã de chamar Deus de “Ele” e “Pai”. Mas a linguagem e as imagens femininas sempre fizeram parte da história da Igreja.

Hildegard de Bingen, uma respeitada abadessa (madre-superiora) da Idade Média imaginou e retratou o lado feminino de Deus em sua arte e em seus trabalhos escritos. E nos anos 1300, a mística Juliana de Norwich falou sobre o lado materno de Deus.

Estudiosas feministas modernas, como Mary Daly e Joan Engelsman, argumentavam que a ideia de Deus em forma feminina foi estrategicamente eliminada da história cristã.

Segundo relatos, o projeto da Igreja é explorar o uso da linguagem neutra para fazer referência a Deus. Usar a palavra “Parent”, ao invés de “Father” (pai), é uma das opções avaliadas - em inglês, a expressão é usada em alusão aos genitores de um indivíduo, sejam eles homens ou mulheres.

Mas há outras propostas recentes para usar pronomes femininos, como “She” ( "Ela” em português).

Quando Libby Lane foi nomeada a primeira bispa mulher da Igreja da Inglaterra em 2014, ela argumentou a favor da aceitação do uso de pronomes femininos para se referir a Deus.

Ao mesmo tempo, o presidente do Mulheres e a Igreja, um grupo que defende a igualdade de gênero na Inglaterra, afirmou que a introdução de bispas teria impacto na vida das mulheres na Igreja “somente se Deus for tanto ela quanto é ele – porque este é um aspecto muito formativo da vida da nossa Igreja e um verdadeiro bastião do sexismo”.

Rachel Treweek, consagrada bispa em 2015, juntou-se ao debate defendendo a eliminação de todos os pronomes de gênero para Deus.

Um ‘Deus’ sem gênero?

Em pesquisa com mulheres que fazem parte do clero, identifiquei indícios de que algumas delas podem não se sentir confortáveis com o fim da linguagem masculina tradicional.

Uma vigária chegou a afirmar que “o inferno explodiu” quando, durante uma sessão de estudos bíblicos, alguém sugeriu que a oração do Pai Nosso começasse com as palavras “Mãe Nossa”.

O uso da expressão “Parent” também preocupa o reverendo Ian Paul, teólogo associado à Igreja São Nicolau, em Nottingham, Londres. Segundo ele, as palavras “Father” e “Parent” não são intercambiáveis e têm significados diferentes.

A maneira como as palavras transmitem um gênero é, obviamente, parte do problema. A teóloga feminista Rosemary Radford Ruether argumenta que mesmo palavras que parecem neutras não são, pois “Deus” evoca imagens masculinas.

Para complicar ainda mais, palavras masculinas são às vezes forçadas a representar tanto o gênero masculino quanto o feminino.

Uma sacerdotisa, por exemplo, disse que vê “Father”, ou “Pai”, como a única forma de descrever Deus. Mas “pode ser que as ideias sobre a paternidade precisem mudar”, afirmou.

Outra entrevistada disse que vê o termo “Father” como masculino e feminino.

Essas complicações em torno da linguagem e do gênero sugerem que um projeto para usar linguagem neutra precisará refletir profundamente sobre o que significa e constitui o gênero “neutro”.

GETTY IMAGES

Legenda da foto,

O uso da linguagem neutra pode abrir as portas para outras mudanças mais progressistas na Igreja?

Explorando outros nomes para Deus

Embora minha pesquisa sugira que há um apego a palavras como “Pai” entre algumas mulheres do clero, várias entrevistadas me disseram que tentaram evitar usar qualquer linguagem que identifique o gênero para falar de Deus.

Alguns sugeriram o uso de “Goldself” para substituir os pronomes masculinos.

“Quando ouvi 'Godself' sendo usado, gostei bastante. Essa é uma sugestão. [Mas] dentro das paróquias acho que chamaria a atenção quando não necessariamente é nisso que queremos nos concentrar”, afirmou uma mulher.

Há ainda uma sensação de que algumas congregações podem não estar dispostas a adotar a mudança linguística, mesmo que haja o desejo entre o clero.

A discussão sobre o uso de linguagem neutra para descrever Deus é, no mínimo, um reconhecimento de que o domínio da linguagem masculina é um problema.

Muitos gostam da possibilidade de frequentar a Igreja sem ouvir as constantes referências a “Ele” e “Pai”, visto que Deus deve estar além do gênero.

Uma reforma da linguagem patriarcal pode abrir as portas para enfrentar outras injustiças sociais. Talvez estejamos testemunhando o começo de uma mudança radical na Igreja.

Mas nesse momento, a luta pela inclusão na Igreja está em frangalhos. Há problemas de racismo institucional, desigualdade de gênero no sacerdócio e, mesmo após anos de discussão, o casamento entre pessoas do mesmo sexo ainda não é reconhecido.

Dado o histórico da instituição, qualquer mudança radical resultante desse projeto seria um milagre.

* Sharon Jagger é professora de Religião da Universidade York St. John

Fonte: BBC

Um comentário:

  1. O espírito do anti-Cristo já está na vida de muitos que se dizem cristãos, esse tal clérigo eclesiástico. Os verdadeiros cristãos que servem a Deus Pai, o todo Poderoso, jamais vão ceder aos caprichos luciferiano de tais pessoas que sentem ofendidos o porquê da Palavra de Deus, a Bíblia se referir ou dar conotação a Deus como homem. A estes clérigos, meu desprezo e que se convertam, pois já estão andando de mãos dadas com Satanás, ah! E sobre satanás (o anjo caído) não vão discutir também a sua masculinidade? É fato que o espírito do anti-Cristo já tomou o coração e vida destes que se dizem cristãos, como advertiu o Senhor Jesus e também o apóstolo Paulo,que nos últimos tempos, estes tais se levantariam dentro da igreja de Deus.
    Como Paulo escreveu em 2 Tessalonisenses 2.1-4:

    “Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele.
    Que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição. O qual se opõe, e se levanta CONTRA TUDO O QUE SE CHAMA DEUS, ou SE ADORA; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus.”

    Que lástima que estes tais líderes estejam do lado errado da estatística que o Senhor Jesus profetizou: “…e por se multiplicar a iniquidade o amor de quase todos esfriará”.
    Estes clérigos são nada mais que lobos dentro da igreja. E os tais pagarão um preço alto por tais decisões, e pagarão com o fogo eterno.

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Pastor Carlos Roberto Silva
Point Rhema

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