Iniciativa
quer levar ao Parlamento proposta para extinguir entidade, sem proibir
"expressão da fé e culto dos indivíduos". ATJ responde que
desassociação pode ser "amorosa"
Uma
nova petição dirigida à Assembleia da República e à Comissão da Liberdade
Religiosa pede a "imediata extinção" da Associação das Testemunhas de
Jeová (ATJ) e o consequente "cancelamento imediato do seu assento no
registo de pessoas coletivas religiosas".
No
texto de iniciativa de Ricardo Pimentel, explica-se que a finalidade não é proibir a "expressão
da fé e do culto dos indivíduos". Já quanto "à instituição coletiva
religiosa que representa juridicamente as Testemunhas de Jeová (...), o caso é
bastante diferente e deve merecer o escrutínio atento do legislador",
argumenta o promotor da petição.
Numa longa petição, o autor sustenta o seu pedido na Constituição da República e em outros textos
fundamentais de direitos humanos.
Solicita ainda a intervenção da
Comissão da Liberdade Religiosa para que chame "os representantes da
comunidade das Testemunhas de Jeová e de representantes das vítimas [das]
políticas de ostracização [da associação]".
Defende ainda que a comissão deve levar este grupo religioso a reformar "a sua política"
em relação a "membros e ex-membros por forma a respeitar os seus direitos
constitucionais e não mais os oprimir e coagir através de práticas
discriminatórias e de ostracização, podendo assim reabilitar-se perante a lei e
voltar a ter um estatuto reconhecido pelo Estado português".
Ricardo
Pimentel disse à imprensa que não sabe se o Parlamento acatará a sua petição, como
aconteceu com outra, em janeiro, em que se pedia para "libertar as pessoas
que vivem oprimidas numa seita".
Esta nova petição passará
pelo mesmo crivo, e deverá ser avaliada sobre a admissibilidade ou não.
A
petição já recolheu até ontem, cerca de 500 assinaturas (são necessários mil para os
peticionantes serem ouvidos e mais de quatro mil para subir a plenário). Foi lembrando pelo próprio autor que a petição anterior "foi indeferida liminarmente por
deliberação unânime".
·
O
autor admite que "não se pode pedir a extinção de uma religião
nem é esse o meu propósito". "Acredito na liberdade religiosa, não
sou crente, deixei de o ser", justificou-se, ele que foi testemunha de
Jeová durante 40 anos (dos 4 aos 44) e chegou a ser ancião (os ministros dos
cultos das Testemunhas de Jeová).
"O que está sendo solicitado é a única
coisa que a lei de liberdade religiosa permite", insistiu. E isso,
argumentou, é "o cancelamento da inscrição por via da extinção por via
judicial da associação religiosa", "sem prejuízo da liberdade
individual de religião e de culto e de reunião constitucionalmente garantidas
aos aderentes desta comunidade religiosa".
Para
Ricardo Pimentel, o problema é anterior:
"É a convicção dos signatários
desta petição que o Estado falhou no seu dever de fiscalização quando aceitou
inscrever a ATJ no registo de pessoas coletivas religiosas", uma vez que o
"assento deveria ter sido recusado" com base no artigo 39.º da lei,
em que se estabelece que "a inscrição só pode ser recusada" por
"violação dos limites constitucionais da liberdade religiosa".
Os
peticionários invocam a lei para notar que "as associações extinguem-se
(...) quando o seu fim seja sistematicamente prosseguido por meios ilícitos ou
imorais" e "quando a sua existência se torne contrária à ordem
pública". E com longos argumentos explicam que há uma "política de
excomunhão nas Testemunhas de Jeová" e de "ostracização social
praticada" pela ATJ que "viola direitos e liberdades fundamentais
constitucionalmente protegidas", dando "exemplos concretos"
dessa "violação de direitos fundamentais".
"Institucionalização do ódio"
Ricardo
Pimentel defendeu que há "uma institucionalização do ódio" a
quem entra em ruptura com a ATJ. "Pregam o ódio à pessoa que saiu. Queremos
que este tipo de discriminação pare", justificou, dando exemplos de como
se cortam laços familiares e de amizade com quem deixa a comunidade.
"Se
alguém tem um pensamento dissonante, todos ficam logo com as antenas ligadas", observou o também antigo ancião. Há um ambiente opressivo, "em que cada
um delata o outro". "No meu caso foi a minha própria esposa que me
entregou. É o poder da doutrinação, que leva a que pais entreguem filhos,
filhos e pais, maridos e mulheres..." É contra isto que promove a petição.
Sobre tais práticas, a ATJ direciona os interessados para o seu site www.jw.org,
onde se defende que a comunidade não expulsa "automaticamente alguém que
cometeu um pecado grave". No entanto, se uma pessoa "passa a ter o
costume de violar o código de moral da Bíblia e não se arrepende é
desassociada, ou evitada. A Bíblia diz claramente: "Removei o homem iníquo
de entre vós"".
A Associação Testemunhas de Jeová diz que (VEJA AQUI) que
"a decisão de desassociar o transgressor é muito severa ou até desamorosa,
principalmente se formos chegados a ele. Mas a Palavra de Jeová nos dá motivos
convincentes para crer que essa decisão, na realidade, é amorosa".
Com informações: Diário de Notícias
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Pastor Carlos Roberto Silva
Point Rhema