Capitão Carla Borges está há 13 anos na FAB. Nathalie Porto trocou arquitetura pela aviação; veja histórias.
Aos 34 anos, a capitão da Força Aérea Brasileira Carla Borges é a primeira mulher a pilotar um avião presidencial no Brasil. Com o olhar altivo e os passos firmes, a militar se destaca em meio a um universo historicamente masculino, onde apenas uma a cada seis pilotos da instituição é mulher.
Às vésperas da data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher – lembrado na última quinta-feira (8) –, a militar que transporta o presidente Michel Temer em viagens oficiais recebeu o G1 na Base Aérea de Brasília para contar parte de sua trajetória.
As flexões “capitã” e “pilota” estão registradas oficialmente no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), organizado pela Academia Brasileira de Letras. Mesmo com a chancela do idioma, a maior parte das mulheres na carreira militar diz preferir o termo “neutro” – neste caso, as palavras flexionadas no masculino.
Mais que a personalidade, o currículo da piloto que chama a atenção. A capitão – como é chamada pelos colegas da FAB – assumiu o posto operacional da aeronave após longos 13 anos de formação.
“Estou orgulhosa de ter chegado aonde eu cheguei.”
Em pouco mais de dez anos de carreira, Carla acumulou mais de 1,5 mil horas de voo no comando de nove modelos diferentes de aeronaves. Durante todo esse período, ela disse não ter sentido diferença de gênero no tratamento entre os colegas militares dentro da FAB. Carla também foi a primeira mulher a integrar o Esquadrão Escorpião, localizado no estado de Roraima, que emprega o modelo A-29 Super Tucano na defesa das fronteiras do país. O pioneirismo se repetiu, dessa vez, quando ela se tornou a primeira mulher a chegar ao seleto grupo da aviação de caça.
Apesar disso, a capitão recorda o fato de, ainda na primeira turma de mulheres aviadoras, em 2003, compor um grupo de apenas 20 mulheres em um universo de 180 pessoas. A Força Aérea Brasileira só passou a aceitá-las na corporação a partir de 1982.
“Vejo que as pessoas estão valorizando mais a presença feminina na Força Aérea, não porque tem diferença entre os pilotos, mas para mostrar para as mulheres que [elas] têm essa possibilidade.”
Sonho de menina
A paixão da militar pela aviação surgiu na infância, quando os “olhos brilhavam ao ver uma aeronave passar”. Na família e na escola onde estudou, ela lembra de, ainda menina, sempre ter sido incentivada a seguir a carreira.
Em entrevista concedida à própria FAB, quando assumiu o controle do avião presidencial, a pilota disse que o pioneirismo no setor ajudou a “abrir portas para outras mulheres” que, até então, “não sabiam que poderiam ser pilotos da Força Aérea”.
“Me sinto honrada de cumprir essa missão de estar transportando a maior autoridade de um país”, afirma Carla.
“Foi necessário muito preparo e dedicação para chegar onde eu estou, como comandante, podendo pilotar a aeronave presidencial.”
‘Atenção, senhores passageiros…’
Outro exemplo de pioneirismo na profissão é o da piloto Nathalie Porto. Aos 25 anos, mesmo com a formação em arquitetura, ela optou por deixar o lápis e a prancheta de lado para assumir o controle de aviões.
Dez anos depois, Nathalie é piloto de uma companhia aérea comercial – a mudança para Brasília aconteceu em outubro de 2017. Ao G1, a comandante da Avianca lembra que era a única mulher em meio a 30 homens que participaram da turma de formação.
“Ao longo dos anos, dentro da aviação, vi que a proporcionalidade foi mudando. A mulher está mais presente nesses espaços.”
Apesar da percepção da piloto sobre o aumento da participação feminina no setor, Nathalie diz que no contato direto com os passageiros e funcionários do setor – ou seja, quando não está na cabine –, as pessoas ainda estranham a presença dela no cargo.
Ao ser questionada sobre quais as principais reações de passageiros ao vê-la no comando de uma aeronave, Nathalie responde com uma palavra: “supresa”.
“Muita gente me confunde com comissária de bordo só pelo fato de eu ser mulher, mesmo estando com uniforme diferente.”
Apesar da formação como piloto e instrutora de voo, Nathalie diz que a trajetória na profissão nem sempre foi fácil. Ao G1, ela relembrou o momento em que foi rejeitada por uma empresa de táxi aéreo.
“Eles não queriam me contratar por ser mulher, para economizar com diárias da tripulação”, diz. “Alegaram despesa extra com a acomodação no hotel, já que não poderiam me colocar no quarto com os copilotos”.
Mulheres na aviação
Passados 36 anos do ingresso das mulheres na carreira militar da Aeronáutica, a presença feminina na FAB corresponde a apenas 17% do efetivo. No total, de 67,1 mil militares, 55,7 mil são homens e 11,3 mil mulheres. Os números dizem respeito a todas as funções dentro da corporação.
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), no período de 2015 a 2017, o número de mulheres na aviação aumentou em 106%. O aumento foi mais expressivo entre as mulheres com licença de é no de mulheres com licença de pilotas privadas de avião (PPR) – um salto de 165%, passando de 279 para 740 em dois anos.
O número de mecânicas também cresceu 30% no período, passando de 179, em 2015, para 233 em 2017. No entanto, o número ainda é pequeno quando comparado aos profissionais do sexo masculino. O último balanço mostra que há 8.092 homens na área de conserto e manutenção de aeronaves – número quase 35 vezes maior.
Com informações g1/DF. via Gospel Geral
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Point Rhema