GABINETE E CLÍNICA PASTORAL

Quero compartilhar com os leitores desse blog, o assunto tão bem defendido pelo nobre companheiro Pr. Jessé Gonçalves Sobral, durante as discussões plenárias da 75ª AGO da COMADESPE na AD em Guaratinguetá - SP - O Pr. Jessé Sobral, é Pastor Presidente da Assembléia de Deus Betânia em Piracicaba - SP e 3º Secretário da Diretoria da COMADESPE.

Pr. Carlos Roberto Silva

CLINICA PASTORAL

Parte divina – “E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, e o Espírito de sabedoria e de inteligência, e o Espírito de conselho e de fortaleza, e o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor”. (Is 11:2)

Parte humana – “Onde não há conselho os projetos saem vãos, mas, com a multidão de conselheiros, se confirmarão”. (Pv 15:22)
“Não havendo sábia direção, o povo cai, mas, na multidão de conselheiros, há segurança”. (Pv 11:14)

“Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho”. (I Pe 5:2,3)

I - O QUE É ACONSELHAMENTO PASTORAL?

Aconselhar é como guiar um cego, ele sabe o que quer, mas não sabe como chegar lá. Assim, o papel do conselheiro é ajudar alguém a chegar a algum lugar, sempre à luz da Palavra de Deus e dum compromisso com as questões eternas.

“O papel do conselheiro é como de um clinico geral, que quando não resolve o problema, encaminha para um especialista” (CRS)

“A igreja é um hospital, Jesus é o medico dos médicos. A Palavra é o remédio. Nos pastores somos apenas enfermeiros. O segredo do sucesso do tratamento está em seguir a receita e saber dar a dose certa”. (Pr. José Neco)

D. Atendimento Pastoral é uma questão de EMPATIA (PHATOS, PAIXAO, PATOLOGIA). Aqui o eixo é mudado, não há espaço para o egocentrismo, pois numa visão antropológica o foco é o OUTRO, pois no amanhã nós poderemos ser o OUTRO. Isto resgata o valor da SOLIDARIEDADE em detrimento dessa DESUMANIDADE que assola o mundo

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E. Precisamos voltar ao um principio básico: “O Gabinete Pastoral é uma extensão do nosso púlpito!”. Tudo é importante, agenda, construção, administração, mas o Gabinete do Pastor também é lugar de cura e até de milagres. Mesmo sabendo que diante de algumas situações teremos que reconhecer a nossa limitação, confiamos na suficiência da GRAÇA de Deus, que opera em nós e através de nós.


F. Ë seguir o exemplo de Jesus. O Mestre amado fez isso com:
A mulher samaritana no poço de Jacó – João 4
Pedro após a ressurreição – João 21:15
Os Apóstolos por diversas vezes – João 14 e 16
Com a mulher de fluxo de sangue e com Jairo – Marcos 5:21. O Mestre parou a multidão para atender apenas um ser que estava sofrendo as angustias e as perdas dessa vida.

Ø “Atender é parar as multidões dos nossos projetos, correria, reuniões, viagens e dar atenção a quem precisa”.

PENSE: Será que estamos mais ocupados que Jesus? Ou nos achamos tão importante que não dá parar? E se a doença chegar, e a morte, não nos pára?


OBSERVE: Ninguém está definindo o Atendimento ou aconselhamento pastoral como um atendimento especializado nas áreas social, jurídica, psicológica, emocional, medica, mas como uma orientação espiritual, no sentido de que é o Espírito Santo que nos guia na direção certa, sob os mais diversos assuntos: espiritual, emocional, familiar, profissional, psicológico, medico, sem desprezar a ajuda ou o encaminhamento para outras áreas do saber, da ciência ou mesmo da fé (libertação).

II - POR QUE NEGLIGENCIAMOS O ATENDIMENTO PASTORAL?

A. Creio que nós pastores não valorizamos muito o atendimento pastoral individualizado, porque nós não recorremos a este expediente quando precisamos, afinal pastor também precisa de aconselhamento, também é gente, e passa pelas mais diversas situações. Assim findamos por achar que cada um deve fazer o mesmo.

B. Creio que muitas ovelhas também evitam serem aconselhadas pelo medo de se expor, aliada ao grande temor de ter sua vida exposta à comunidade pela falta de ética de quem vai aconselhar. Eis a questão.

C. Porque não sabemos ouvir, não fomos treinados para isso, nosso ministério tem como base a PROCLAMACAO, daí a dificuldade de ouvir.

D· “As vezes, a solução está mais no ouvir do que no falar”

As pessoas necessitam serem ouvidas por 2 motivos:

1) Neste mundo elas são um numero: RG, CPF, Empresa, Escola, Estatísticas. Não podemos continuar sendo um numero no rol de membros ou um valor no rol de dizimistas. Ë uma questão mais sociológica do que espiritual. Paul Yongi Cho escreveu: “As pessoas neste mundo são um numero, quando vem a igreja querem se sentir gente”. (Irmão)


2) Vivemos numa época que em as vozes deste mundo nos sufocam, confundem a mente, abalam a alma, embrutecem o espírito, cauterizam a consciência. Pai, filho, marido, esposa, empregado, patrão, professor, televisão, radio, político, internet, ruídos dos carros, igreja (pastor, liderança), teleevangelistas – Todo mundo está falando – quem está pronto a escutar?
Deus? Sim. Mas através de quem? Do pastor ou uma pessoa preparada, fiel a Deus, ao ministério, maduro (a). Se não podemos ou não sabemos, permitamos ao mesmo que outros o façam, a bem do rebanho do Sumo Pastor, Jesus.

E. Precisamos evitar 2 perigos que nos tem levado a evitar o atendimento pastoral individualizado, quer seja no gabinete, no lar, na visita, no hospital etc. São eles:

1. A tentação do Cristianismo Heróico – “Cultura da Vitoria”: Estamos deixando de ser mais que vencedores, para sermos “vencedores demais”. Isto está nos afastando do povo, pois tudo tem que ser resolvido do púlpito. Orações fortes, unções, gritos de guerra, palavras positivas, pronto. A multidão vai para casa abençoada. O Pastor é um super-herói, dá um jeito pra tudo. “Vive o que prega e prega o que vive”. A auto-imagem que tem de si mesmo leva-o a pensar que é um homem superior, imprescindível, insubstituível, um “referencial”.

2. A insensibilidade do Cristianismo Estóico – “Cultura da Negação”. Na qual nos tornamos insensíveis, apáticos, indiferentes. Temos respostas prontas, versículos em pacotes, verdades teológicas frias, porque cansamos de sermos super-heróis, então nos tornamos insensíveis, criamos calos. Como certo cirurgião que depois de muito usar o bisturi, calejou o dedo e não pode mais operar. Aconselhar é remover os nossos calos, é ter sensibilidade. Dizer: “É assim mesmo, é a nossa cruz”, não resolve o problema e nem sequer dá a ovelha necessitada uma direção. As vezes é preciso apenas chorar com os que choram, como fez o Mestre amado em João 11:33, e, se não der pra ressuscitar o morto Lazaro, vamos ao mesmo ressuscitar as Marias.

III - QUANDO EXISTE A FALTA DO ATENDIMENTO PASTORAL?

Gostaríamos de abordar esse assunto sem a pretensão de esgotá-lo, a partir de três tópicos:
A. Falta de atendimento pastoral – ninguém está à disposição, nem com agendamento. A ovelha procura, mas não acha o pastor.

“É a síndrome do gabinete vazio”.

· “Aconselhar é papel do pastor, que alem de administrar, orar e pregar tem que reservar um tempo para ouvir suas ovelhas e conhecê-las mais de perto”.

· Cuidado com a onda da terceirização, você pode ficar sem o “seu” rebanho. Isso não significa que não podemos ter auxiliares que façam esse trabalho.

B. Falta da qualidade no atendimento, não falta prudência, vigilância, espiritualidade, porem falta o preparo do ponto de vista emocional e técnico. A ovelha acha o pastor, mas totalmente despreparado.

"É a síndrome do alforje vazio".

C. Falta de cuidados no atendimento gerando envolvimento e até escândalos, pois se tem preparo do vista de vista técnico, mas o mesmo não é aplicado com espiritualidade. A ovelha acha o pastor, está tecnicamente preparado, mas negligencia os cuidados no atendimento.

“É a síndrome do alforje rasgado”.

IV - Conseqüências da falta de atendimento pastoral. São múltiplas, diversas e desastrosas, vejamos:

a. Casamentos que poderiam ser restaurados e hoje estão destruídos.
b. Famílias que não suportam mais a presença de um de seus membros, por causa das drogas, infidelidade, violência domestica, homossexualismo, e acaba tomando decisões desastrosas.
c. Decisões erradas no âmbito dos relacionamentos, profissional, ministerial. (casamentos, Jovens e Adolescentes)
d. Dispersão numérica e perdas de membros. Vão procurar igrejas onde “as portas estão abertas” (não só do templo, da secretaria, da tesouraria, mas também do gabinete pastoral).
e. Procura por atendimento em lugares não recomendados, como movimentos neopentecostais banalizados, pessoas não qualificadas, atrás de profetadas, visões, supostos milagreiros, leituras nocivas a fé cristã, recomendações dos teleevangelistas sob a ótica da teologia da prosperidade, deixando a ovelha a mercê de oportunistas.
f. Famílias destruídas por falta de tempo e dedicação do obreiro à ela, pois sacrificam a família em detrimento da “obra”.
g. Carreira ministerial abortada porque não houve o atendimento preciso quando da ocorrência de uma queda.
h. Pecados não confessados na igreja, que poderiam ser evitados se houvesse espaço para se admitir a tentação.

V - PROCEDIMENTOS BÁSICOS: Pré-aconselhamento

Utilize fichas ou anotações (use códigos), notebook. Exemplo: Problema apresentado X solução sugerida.
Procure aconselhar em lugar restrito, sem interrupções, porém nunca isolado. Se fechar a porta, essa deve ter uma janelinha de vidro.
Cuidado para não aconselhar na nave da igreja após o culto. Lembre-se, isso pode despertar a curiosidade de muitos e agravar a situação pela maledicência. Principalmente porque questões emocionais podem explodir e então invade-se a privacidade do aconselhado.
Nunca aconselhe mocas ou senhoras sozinho, se a sua esposa não estiver presente chame sempre um irmão ou irmã.
Se você puder, crie um ambiente propicio para aconselhamento, cores claras, moveis confortáveis, som com hinos evangélicos e mantenha sempre uma bíblia à mão.
Quando aconselhar por carta, telefone, internet, procure manter Xerox e registro de tudo. As vezes o pastor pode ser acusado de aconselhar de forma errada, e você tem que ter registrado o que disse, hora, local.
Conheça a diferença entre Gabinete Pastoral e a sua Casa. Procure esquecer-se do assunto o mais rápido possível.
“O gabinete pastoral deve ser uma extensão do seu púlpito, mas sua casa não deve ser uma extensão do gabinete pastoral”.
Lembre-se o procedimento do salva-vidas, quando chega por trás para salvar a pessoa. Assim. Não permita que o aconselhando te sufoque, muito menos a sua família.

RECOMENDACÕES GERAIS NO ACONSELHAMENTO

Ouça o suficiente antes de tecer qualquer comentário, conselho ou emitir um parecer; não se precipite. Procure a raiz do problema. Arme-se de perguntas.
Edifique o crente; pré-evangelize o incrédulo, fale de Jesus, mas deixe de ouvir o seu problema.
Incentive-o a falar, deixe-o a vontade e seguro para colocar para fora aquilo que o está sufocando.
Divida o assunto em partes (família, trabalho, ministério, coração, finanças, relacionamentos), faça um mapeamento e defina prioridades.
Não deixe a espiritualidade em segundo plano, ore e use a Bíblia.
Cultive a credibilidade moral, espiritual e emocional. Você está sendo observado.
Seja sensível, porem não se entregue aos sentimentos alheios.
Veja no aconselhando um ser em potencial para mudar e ser abençoado por Deus. Não o evite.
Utilize de diversas ferramentas para extrair informações (perguntas, cartas, inventario, família, comportamento), mas nunca recorra as fofocas. Quem trás também leva, isso pode colocar tudo a perder.
Planeje a melhor estratégia. Exemplo: Atender o casal em separado, depois juntos, falar com os pais depois com os filhos etc.
Seja humilde para reconhecer as suas limitações e tentações. Trabalhe em parceria. Exemplo: Aconselhamento Pastoral X Psicoterapia, Serviço Social, Advogacia, Medicina, até mesmo outros conselheiros espirituais etc.
Seja ético com pessoas de outras igrejas. Não use isso como forma de proselitismo.
Cuidado em compartilhar experiências particulares. Sua vida e intimidades podem ficar na “boca do povo”.
Imponha limites, quanto:
Tempo de aconselhamento (+/- 50 minutos),
Vocabulário usado (desabafo é uma coisa, vulgaridade é outra)
Postura no aconselhamento. Contato sim, com tato não.
Aconselhamento é uma luta espiritual clara e constante. Não negligencie Efésios 6:12-18, lembre de que lutamos contra as “astutas ciladas do diabo”.
Não queira resultados imediatos. As vezes há muitos fatores envolvidos, e isso exige paciência de aconselhador e do aconselhando.
Aconselhar é diferente de ordenar ! Nunca decida por ninguém, e quando emitir uma opinião ou parecer, faça com segurança, não se deve brincar com a vida ou sentimento alheio.
Cuidado com pessoas carentes. Seja cuidadoso, não tente ser você a solução do problema.
Mantenha sigilo das informações, isto muito antes de ser uma questão espiritual e uma questão ética.
Não busque informações que não são necessárias, que não são pertinentes ao assunto tratado, nem se baseie em fofocas.
Busque a sua maturidade.
Seja verdadeiro; não diga o que não sabe e não omita o que tem de ser dito.
Cuidado com as motivações inadequadas

Evite os quatros dilemas da humanidade:
-Querer tudo perfeito num mundo imperfeito.
-Querer mudar a todos quando na verdade nos precisamos de mudança. “’É mais fácil o homem mudar o mundo do que a si próprio”.
-Querer materializar o espiritual, ou seja, fazer a parte de Deus, ser Deus na vida das pessoas. EX: Influenciar no sentimento alheio.
-Querer espiritualizar o material, ou seja, atribuir a Deus aquilo que é deve ser decisão humana. Ex: abandonar o pecado, perdoar o ofensor etc.

CONCLUSÃO

Exercer o ACONSELHAMENTO PASTORAL não deve ser feito de qualquer maneira. Um Igreja forte é composta de membros bem resolvidos e famílias saudáveis, e o Aconselhamento Pastoral é uma grande e bíblica ferramenta para fazer esta a história da “sua” Igreja.

“O Pastor NÃO PODE OPTAR entre aconselhar e não aconselhar, mas pode sim preparar-se para aconselhar bem ou então fazê-lo de maneira despreparada!”

Termino essas palavras com duas sugestões:

A primeira, com muito amor e por experiência própria, para as igrejas e ministérios menores. Invista no atendimento pastoral individual. Esse procedimento pode ser um caminho de Deus para o crescimento quantitativo e qualitativo, tanto da Igreja como da ovelha atendida.

A segunda, com muito tremor e temor, para igreja e ministérios maiores. Não cometa o erro de Moises, O CLERICALISMO E A CENTRALIZAÇÃO.

O conselho de Jetro:

"E tu, dentre o povo, procura homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza...para que julguem este povo em todo tempo,..." (Ex 18:21,22)

A ordem de Deus:

"E disse o Senhor a Moises: Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, de quem sabes que são anciãos do povo e seus oficiais; e os trarás perante a tenda da congregação, e ali se porão contigo. Então, eu descerei, e ali falarei contigo, e tirarei do Espírito que está sobre ti, e o porei sobre eles; e contigo levarão a carga do povo, para que tu sozinho o não leves". (Números 11:16,17).”

O desafio é grande, mas não intransponível. Com a graça de Deus aliada a busca do preparo bíblico, teológico e técnico, poderemos servir a Deus oferecendo um aconselhamento com qualidade ao seu rebanho.

Agradeço aos pastores:

Carlos Roberto Silva, Saulo Jardim, Jorge Antunes, entre outros, que tem compartilhado comigo suas experiências, que muito enriqueceram e ampliaram minha visão sobre o assunto.

Pr. Jessé Sobral – Piracicaba – SP

3º Secretário

da COMADESPE