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sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

AS ASSEMBLEIAS DE DEUS E O DESAFIO DE COMUNICAR TEOLOGIA COM EFICÁCIA À NAÇÃO BRASILEIRA




AS ASSEMBLEIAS DE DEUS E O DESAFIO DE COMUNICAR TEOLOGIA COM EFICÁCIA À NAÇÃO BRASILEIRA



INTRODUÇÃO

   Achei interessante dar início a introdução deste artigo, parafraseando duas frases interessantes de dois teólogos europeus: Soren Kierkegaard e Blaise Pascal. 

Soren Kierkegaard quando diz:

"O teólogo, apesar de todo o seu repertório religioso, está obstinado (e condenado) a conviver com a incerteza e fragilidade de sua própria fé, já que quem quiser 'ter certeza da certeza' não deve buscá-la na religião." 

No mesmo sentido, Blaise Pascal também diz:

 "'Na dúvida, é melhor ter fé'; pois que, a incredulidade proclamada pelo iluminismo se ajoelha diante da hipótese de que a dúvida favorece a fé quando se diz: 'talvez seja verdade, ou, e se for verdade?'"

Possa ser que alguém se escandalize com estas duas paráfrases por imaginar que a Teologia seja tão inspirada quanto as Escrituras e, por conta disso, achar que ela é perfeita. Infelizmente isso não é verdade, pois a Teologia enquanto ciência que estuda as coisas concernentes a Deus, tenha seus méritos e seja extremamente importante para explicar pontos difíceis da palavra de Deus, ela não é a palavra de Deus. Ou seja, enquanto a revelação de Deus descrita nas Escrituras surgiu do alto para baixo; a Teologia busca desvendar certos mistérios que aparentam discrepâncias em alguns textos, mas faz isso sob o prisma da mente humana, ou seja, surge de baixo para o alto. A Teologia procura traduzir nas Escrituras, tudo aquilo que está ligado a palavra de Deus e se relaciona com sua vontade, com seu propósito para a humanidade.

As AD's podem e devem transmitir Teologia com excelência a todos

   Com relação a necessidade da eficácia na comunicação da Teologia  por parte da igreja matriz do pentecostalismo, o que se quer dizer a respeito é que ela tem o dever de fazer que a Teologia seja conhecida não apenas por seus membros, mas pelo povo que está ao seu redor, desse modo, deve-se reconhecer que o tema é de não pouca sensibilidade, portanto, necessário se faz começar o tema por meio de uma pergunta:                                        
"Por que as AD's do Brasil têm tanta dificuldade de comunicar Teologia fora de seus intramuros, com a sociedade a qual pertence?"

Antes de responder a esta pergunta é preciso fazer saber que, do ponto de vista filosófico, não se deve deixar passar despercebida a importância da linguagem, já que a linguagem é o principal meio de dominação. As palavras surgem com um grande conteúdo moral, quem cria as palavras é quem domina, pois a linguagem é produto de relações de poder e dominação. De igual modo, é por meio da linguagem que se forma um conceito e a partir do conceito formado se forma uma visão de mundo.

     Dito isto, voltemos ao tema dentro do aspecto teológico que é o que nos interessa. Para tanto, é preciso antes de tudo, saber que a resposta à pergunta não pode ser simples, muito menos simplista. Em primeira mão, é impossível não detectar que a forma de se pronunciar é uma das causas reais de dificuldade de comunicação de muitos pregadores e ensinadores pentecostais. E aqui não me refiro a dicção, mas sim, a falta de clareza dos assunto expostos. Logo, é de suma importância reconhecer que a comunicação por meio da linguagem é sem dúvida um dos desafios da igreja matriz pentecostal no que diz respeito a comunicar Teologia com eficácia. Com efeito, nossas terminologias pentecostais são estranhas à pessoas comuns e até a alguns cristãos que não pertencem ao "convívio pentecostal", e não somente a nossa, mas também a de algumas denominações históricas, principalmente as calvinistas que, apresentam uma Teologia muito bem fundamentada, todavia, fora de tempo. Ou seja, a forma de comunicação deste tipo de Teologia é de certo modo estranha ao contexto da nossa sociedade atual e está aprisionada a uma bolha, tornando-a avessa a conhecer e enfrentar a realidade de nossos dias, por insistir em permanecer aos moldes teológicos do período Patrístico, ignorando as condições de vida difícil de mais de 8% da população brasileira que reside em favelas. Só a Palavra de Deus é imutável!

     Sendo assim, não se pode esconder que o enfraquecimento da Teologia Cristã no Brasil por parte das igrejas evangélicas de modo geral, tem se tornado cada vez mais visível aos olhos de qualquer observador cristão que lida com a Teologia no sentido macro, quando se trata de comunica-la fora dos intramuros da igreja evangélica brasileira. É nesse ponto que incluo as AD's de nossa nação, posto que as mesmas embora sejam fortíssimas em seus sermões pragmáticos pregados nos púlpitos, ainda não conseguiram encontrar o caminho tão desejado para transmitir Teologia com a mesma eficácia de seus sermões às pessoas comuns. Diferente do que se prega nos púlpitos das igrejas assembleianas e se ensina aos domingos pela manhã nas suas EBDs espalhadas por nosso país continental, há uma clara demonstração de superficialidade ao tentar transmitir Teologia fora dos círculos assembleianos. Fato é que a Teologia, seja ela pentecostal ou não, precisa ser comunicada a todo custo, no entanto, em se tratando da fé pentecostal é preciso que haja na Igreja Pentecostal matriz, demonstração de fé suficiente para que as pessoas sintam interesse pela Teologia comunicada. Uma vez que  ela, as ADs, seja uma autêntica representante do Evangelho de Cristo na terra.

A timidez da Teologia Pública nos ambientes públicos diversos

     Teologia pública é uma repartição do ramo da Teologia que analisa as relações entre as diversas religiões dentro do aspecto público, seja ele cultural, social ou político. A bem da verdade, não se pode furtar em concordar que com o crescimento do interesse pela política secular por parte do povo evangélico pentecostal e neopentecostal, em especial nas ADs, a Teologia como um todo tende a se  enfraquecer ainda mais, caindo no risco de provocar perda de interesse e se recolher até encontrar seu lugar no marasmo e até no desuso. Em outras palavras, a cada envolvimento e investimento na política secular pela maior igreja pentecostal do Brasil, no que tange a apoio aos pleitos, a Teologia perde sua voz e se limita apenas a servir a departamentos e repartições das igrejas locais, tornando-se uma espécie de patrimônio protegido cuja divulgação ao público comum é proibida. Nesse sentido, aumenta a cada dia o desinteresse por aquilo que deveria ser primordial aos cristãos pentecostais atuais, ou seja, a consciência de que sua missão é alcançar os perdidos com os ensinamentos de Jesus, dos apóstolos e do testemunho da Igreja durante estes dois mil anos de história. E isso só é possível se as ADs entender que deve comunicar Teologia ao povo brasileiro de modo geral, e não somente a sua membresia em particular.

     Uma prova incontestável de que ainda estamos muito aquém com relação ao tema exposto, é que embora já haja uma quantidade razoável de cristãos nas diversas instituições públicas e privadas espalhadas em nossa nação, a Teologia ainda não tem voz no congresso, no judiciário, no planalto, nas escolas de ensino fundamental, nos campus universitários e, porque não dizer, nem mesmo na maioria dos colégios cristãos confessionais, numa clara constatação de fracasso de sua missão por parte da igreja pentecostal brasileira. E dizer que o país por ser laico, impede que cristãos exponham a Teologia não convence. Repiso que a causa pela qual a Teologia vem perdendo força e interesse de ser conhecida por aqueles que não fazem parte da igreja local e por boa parte dos que fazem parte dela é o desinteresse dos cristãos. E isso com velocidade que deveria nos advertir. A nível de comparação com a Bíblia basta recuarmos no tempo até a primeira geração de discípulos para vermos o quanto a partir de dois discursos de Filipe e Paulo, a sua eficácia foi superior à nossa.

Filipe comunica Teologia aos samaritanos (At. 8.5-8).
"E, descende Filipe à cidade de Samaria, lhes pregava a Cristo. E as multidões unanimemente prestavam atenção ao que Filipe dizia, porque ouviam e viam os sinais que ele fazia, pois que os espíritos imundos saíam de muitos que o tinham, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos eram curados. E havia grande alegria naquela cidade." (At. 8.5-8).

Paulo comunica Teologia em Atenas (At. 17.16-34).
"O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens." (At. 17.24).

  No areópago o apóstolo dos gentios expõe a palavra de Deus, ele começa reconhecendo a religiosidade dos atenienses (At. 17.22), depois o apóstolo dos gentios identifica um deus desconhecido dentre as divindades e pega um gancho para apresentar a Cristo como: Criador; Senhor de tudo e de todos; Doador da vida etc. (At. 17.24-31).

     À luz do texto, não é difícil notar que Filipe e Paulo estavam muito além das confusões idolátricas dos atenienses e judaico-samaritanas, isso os ajudou a romper barreiras raciais, religiosas e ideológicas sem necessitar que recebesse uma visão do céu ou ouvisse profecias, eles entenderam claramente que precisavam comunicar o Evangelho (Teologia) a todos quantos encontrasse pelo caminho, e o fizeram com eficácia e excelência tanto de linguagem quanto de testemunho de fé e amor, posto que os que os ouviam entendiam perfeitamente o que eles diziam, e criam no Cristo que eles proclamavam. Isso indica que a Teologia de ambos era clara e simples, com explícito poder de Deus.

  Seguindo o princípio dos dois pregadores neotestamentários, a Igreja mãe do Pentecostalismo no Brasil deve estar atenta à natureza de sua vocação e entender que a comunicação da Teologia é o cerne dessa missão. Os cristãos não foram salvos para viverem isolados em estado de inércia ou para viverem como santos postos em altares e/ou transportados em andor; nem também para viverem debatendo questões internas aos olhos e ouvidos de incrédulos (Mt. 7.6), eles foram salvos para continuar a falar e se relacionar com pessoas, para trocar informações, fazer bom uso das ocasiões e contar experiências acerca de sua fé com o intuito de apresentar o Evangelho. Tomando proveito dessa relação de comunicação, os crentes devem falar de Teologia no trabalho, na escola e nos lugares públicos em geral, quando isso ocorre naturalmente eles comunicam Teologia às pessoas fora da igreja como instituição. Todavia, tudo isso deve ser feito com demonstração de testemunho de fé e amor.

  Penso ser importante dizer que, do mesmo modo que Filipe alcançou muitos em sua pregação, nós crentes pentecostais destes dias, movidos pelo Espírito Santo também podemos alcançar. Todavia, o preparo teológico é necessário e é também de maior importância que os cristãos sejam eles membros comuns, obreiros ou ministros, NUNCA se esquivem de viver a práxis da Teologia Ortodoxa e estejam dispostos a rever sua teologia sempre que ela confrontar valores bíblicos. Para isso reproduzo uma das muitas sábias citações sobre o tema quando diz: "TEOLOGIA SE FAZ A LÁPIS",  ou seja, a teologia pode mudar, se transformar adequando-se a épocas e tempos, sempre sendo corrigida quando se fizer necessário, diferente da Palavra de Deus que é imutável.

   Para além disso, é preciso primeiramente fazer distinção entre adesão à religião evangélica e conversão a Cristo, esta depende totalmente da ação do Espírito Santo no coração do pecador para convencê-lo de seu pecado levando-o ao arrependimento genuíno; aquela não necessita de transformação, basta apenas decidir-se por estar em uma igreja evangélica local e confessar que quer ser um de seus membros. Depois, é preciso restaurar o culto a Deus tanto na sua simetria quanto na sua espiritualidade e dinâmica, adequando-o à realidade atual sem se distanciar das Escrituras e da Ortodoxia.                                                                                                                     
Conclusão

   As AD's não devem se especializar em ensinar o cristão a viver teorias secularizadas, mas sim, Teologia Ortodoxa na prática, dentro da realidade desse tempo. Para tanto, ela precisa usar os meios litúrgicos devendo entender que o culto é unicamente para Deus, e o culto a Deus deve ser inteiramente voltado para agradá-Lo conforme à sua maneira, não a nossa. Nesse sentido, a única forma com que teremos certeza de que estamos agradando ao Senhor é oferecendo a Ele um culto baseado apenas na sua Palavra, de tal modo que os participantes do culto mesmo não sendo cristãos, possam entender perfeitamente a mensagem que lhes chega aos ouvidos, isso precisamente significa que o louvor e a pregação devem ser cristocêntricos no sentido mais lato do termo. É isso que penso e é assim que creio.

SOLI DEO GLÓRIA! 

  • Pastor José Verneques Santos
  • Presidente da AD – Ministério Paulista SP
  • 1º Secretário da COMADESPE
  • Graduado em Teologia IBAD/FABAD
  • Pós-graduado em Ciências da Religião FATEMIG/IBEMI
  • Autor dos livros:
  • Jornada Ministerial;
  • A Suficiência do Evangelho de Cristo Para Sua Igreja;
  • Igreja e Política, Caminhos Paralelos Para Alvos Diferentes;
  • Por Um Discipulado Segundo Jesus Cristo;
  • O Deus Homem, a Incomparável História de Jesus Cristo.  


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Pastor Carlos Roberto Silva
Point Rhema