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domingo, 4 de agosto de 2024

Desafios que as Assembleias de Deus terão que enfrentar para Continuar avançando




DESAFIOS QUE AS ASSEMBLEIAS DE DEUS TERÃO QUE ENFRENTAR PARA CONTINUAR AVANÇANDO


               
"Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Filipenses. 3.13,14)

Introdução:

     No texto em foco, Paulo está escrevendo à comunidade de Filipos de dentro de uma prisão, cujo motivo de ali estar fora a pregação do Evangelho. Ele admite humildemente que ainda não alcançou a perfeição, mas isso não o faz pensar em ficar olhando para trás a ponto de parar, preso ao saudosismo e martirizando sua memória pelas coisas que já não existem. Para o apóstolo dos gentios não basta apenas superar as coisas que passaram, é necessário que o cristão siga adiante avançando pelo caminho, olhando sempre para frente de modo esperançoso e crescendo na vida cristã, por vezes revisando seus valores e os aperfeiçoando debaixo da vontade do Senhor.

     Atualmente não é diferente, a igreja de Cristo continua a seguir os passos de seu Senhor fazendo sempre a leitura correta de como cumprir o mandato divino. Os ciclos altos e baixos, as experiências que uma igreja local passa durante seu tempo de peregrinação, deverão levá-la a considerar seu estado atual e animá-la a buscar novas diretrizes para mudanças serenas nas áreas que se percebam perdas por conta de atrasos no tempo. A Igreja de Cristo desde a sua fundação sempre foi guiada e orientada pelo Espírito Santo, isso faz que ela esteja constantemente à altura de seu tempo, inserida nele como agência divina para agir de maneira dinâmica cooperando com a história humana, preservando a tradição e contribuindo para as próximas gerações com as ferramentas propícias para os seus dias. As  AD's sempre foram desafiadas a vencer obstáculos surgidos e sempre o fez com vigor espiritual. É claro que nestes dias há uma diversidade de desafios que as AD's já enfrentam, o fato de ter escolhido apenas estes que se seguirão, não significa que os demais estão resolvidos. Contanto, julguei ser estes importantes para uma simples reflexão.     

1. A importância da Tradição na História da Igreja

     Durante a formação do cristianismo a Igreja enfrentou grandes desafios de ordem sectária e herética, mas se sobressaiu sobre elas, uma das ferramentas muito usadas pelos primeiros cristãos, além dos textos bíblicos, era o Credo apostólico, é esse documento composto de 12 artigos que, de forma sucinta e objetiva, atrelou as doutrinas da Igreja e deu àqueles seguidores de Jesus um argumento objetivo e seguro quanto ao que está fundamentada a sua fé, o Credo é fundamental à fé cristã até aos dias de hoje.

     Foi a tradição que, opondo-se com veemência às heresias propostas dentro da própria Igreja, reagiu através dos Pais da Igreja suprimindo o crescimento do gnosticismo, do apolinarismo, do unicismo, do montanismo e demais movimentos de heresias daqueles primeiros séculos. Um exemplo disso é a dissertação de Atanásio através do seu Credo desbancando a heresia unicista de Ário, presbítero da igreja de Alexandria, a exposição da Tradição Dogmática feita por Atanásio foi fundamental para aquele momento, sem ela, a igreja atual corria o risco de ser unicista; outro exemplo é o caso da reação de Agostinho suprimindo as doutrinas heréticas de Montano, de Pelágio etc., estes e outros, foram fundamentais para a preservação da doutrina da igreja nos seus dias.

     Do mesmo modo, a Tradição da Reforma Protestante, tem importância fundamental para o cristianismo moderno, nega-la é soltar os braços da fé bíblica e voltar-se para a crença que condiciona a salvação por meio das obras como pregava a igreja dominante do período medieval. Portanto, não há um caminho novo que se cogite o abandono da Tradição Cristã, logo, buscar tal inovação seria o mesmo que cometer suicídio e desejar permanecer vivo. Contudo, é preciso entender que nem tudo dela é possível para nossos dias e, sendo assim, deve-se buscar o caminho sensato de como aplicar aquilo que é útil e possível dentro da realidade destes dias.

     Na mesma linha, negar que o exercício dos dons espirituais é também para nossos dias é tentar afirmar que o evento ocorrido por ocasião da Festa de Pentecostes foi somente para o período do primeiro século, isso é o mesmo que dizer que ele se encerrou com o último dos apóstolos. Essa tese é uma tentativa (inútil) de ousar engessar o ministério do Espírito Santo através da evidência dos dons espirituais na e para sua igreja em todos os tempos, porquanto, entende-se que tal evidência é uma doutrina bíblica. Foi através da ação do Espírito Santo que as AD's surgiram no Brasil, portanto, manter a chama acesa é um dos grandes desafios das Assembleias de Deus em nossos dias, ou seja, deixar de ensinar e aplicar os princípios de nossa tradição pentecostal é algo que não se deve cogitar. A questão é fazê-lo com olhar sereno e dentro da nossa realidade, isto constitui-se em desafios gritantes que a igreja não pode se esquivar de enfrentar.

2. Primeiro Desafio: Manter a Identidade Pentecostal sem Anacronismos
                  
     O Parimento das Assembleias de Deus no Brasil (Sua origem), se deu pouco tempo depois de seus fundadores chegarem ao Brasil, oriundos da chama pentecostal acesa na Rua Azusa. Eles trouxeram consigo um tipo de pregação simples, os pontos cardeais de sua mensagem eram: "Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo e em breve voltará", essa tipo de mensagem deve ser pregada até os dias de hoje, pois produz muitos frutos. Contudo, a simplicidade dos fundadores, das AD's bem como dos primeiros missionários vindo para o Brasil, tanto europeus quanto americanos, foi de fundamental importância para o agregamento de pessoas oriundas do campo e das cidades e, em pouco tempo e com aquela geração de obreiros simples, as Assembleia de Deus transformou-se numa força fenomenal e numa autêntica ganhadora de vidas para Cristo.

     Como já dito, no caso das AD's, os feitos de Deus através de nossos pais fundadores, de como eles foram poderosamente usados pelo Senhor Jesus para plantar uma crescente igreja que em pouco tempo tornar-se-ia na maior igreja geradora de filhos na fé em nossa nação, onde os milagres registrados eram visíveis e corriqueiros, à medida em que ela se movia e crescia, deixando claro que esses feitos foram a causa motora de seu crescimento, são inquestionáveis. A ação divina no seio das Assembleias de Deus no Brasil desde os seus primeiros dias é formidável e indiscutível, essa linda história vivida por nossos antecessores deve ser relembrada para servir de base ao povo assembleiano de nossos dias.

     Do Norte ao Sul e do Nordeste ao Sudeste, as AD's com a mensagem simples que lhe era peculiar, entrou nas regiões esquecidas e excluídas de nossa terra e desbravou ponto a ponto nosso país continental até fazer dele o maior país de crentes pentecostais do mundo. Sem dúvida ela é a maior responsável por este feito, e este fenômeno não para de crescer no nosso território nacional. Entretanto, as AD's atuais estão muito longe daquelas AD's das primeiras décadas, ignorar esta realidade em nada ajuda. O melhor a fazer é encontrar um caminho para preservação da tradição sem ignorar a realidade presente.

     Por já terem passados mais de 113 anos de sua fundação, nossa denominação já é consolidada e considerada uma igreja histórica, pois continua fiel à Escritura Sagrada. E não poderia ser diferente, pois só a Bíblia Sagrada é a Inerrante Palavra de Deus e está acima de todas as tradições. Nesse sentido, não somente as AD's, mas as igrejas de modo geral devem se submeter inteiramente à Escritura Sagrada sem, contanto, abandonar ou suprimir o valor e a contribuição da Tradição Cristã nos deixada pelos primeiros seguidores de Jesus. No caso das AD's, é preciso preservar o elo de ligação entre as AD's das primeiras décadas e as AD's de hoje, valorizando-as em igualdade, valendo-se, porém, de uma cosmovisão cristã correta da realidade de nosso contexto.

     Uma má aplicação do que já foi empreendido culminará em lançar fora o legado ora recebido por parte da Comunidade de Fé Pentecostal atual; a correta interpretação naturalmente implicará na correta aplicação, para isso é preciso deixar claro a disparidade entre aprender e decorar. Quem decora apenas reproduz a história que decorou (síndrome do papagaio) sem ao menos entender o que está falando ou escrevendo e, com o passar do tempo, o suposto conhecimento cairá no esquecimento daquele que o reproduziu; mas quem de fato aprendeu, interpretou corretamente o conteúdo histórico e o aplica dentro da realidade de seu tempo, não lançando mão do aspecto, mas dos princípios contidos nele, e explora a episteme com sabedoria para pavimentar os dias atuais.
        
     Um exemplo disso está na sua mensagem de origem (Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo e breve voltará), é preciso alertar que esse quadrilátero pregado por nossos pais pentecostais precisa ser atualizado em sua exposição para o nosso contexto, de modo que possa alcançar os perdidos nos nossos dias. Isso é dito por que é preciso levar em conta que aquela geração de ouvintes, considerando o público e sua cultura simples, não exigia de seus pregadores um significado aprofundado de cada ponto do quadrilátero propagado em sua mensagem. Hoje, porém, para que esse sermão seja pregado com êxito é preciso que ele atenda o anseio de seus ouvintes quanto a algumas perguntas respondidas pelo seu transmissor, a considerar o avanço da tecnologia e a quantidade de informações simultâneas que a sociedade atual recebe.

     Assim sendo, esse tipo de sermão precisa que cada um dos pontos seja devidamente explicado para que se atinja o alvo necessário.

Por exemplo:                                                                                                             
"Jesus salva" Como Jesus salva? De que Jesus salva? Por que Jesus salva? Para que Jesus salva?

"Jesus cura" Jesus cura o quê? Jesus cura do quê? Jesus cura para qual propósito?
"Jesus batiza no ou com o Espírito Santo" Qual é a finalidade de ser batizado no Espírito Santo? Por que devo ser batizado no Espírito Santo? Por que isso é necessário para os crentes?
"Jesus em breve voltará" Sua volta é um fato? Como ela ocorrerá? E por que devo aguardá-la?

Como visto acima, é a mesma mensagem, todavia, sua explanação deve se adequar à realidade do tempo presente, de suas necessidades atuais.

3. Segundo Desafio: Buscar Capacidade Analítica Profunda e Desprovida de Saudosismos

"Um conselho: se você amou muito um lugar, não faça a besteira de ir visita-lo. Porque você vai visitar pensando que vai encontrar o tempo, mas o tempo não está mais lá. É melhor você ficar com a imagem da sua cabeça." (Rubem Alves)

     Um dos males do ser humano é supervalorizar o tempo passado e ignorar o tempo presente, isso também serve em relação a fé cristã. É consenso que devemos olhar para o retrovisor da história sem ignorá-la, para não cometer os mesmos erros que nossos antecessores cometeram por falta de informações precisas. Todavia, a história passada não deve ser lembrada como um fim em si mesma, mas sim, como ponto de referência para que a igreja atual possa se valer de seus princípios e seguir avançando dentro de uma visão de contexto atual, sem ignorar a realidade de nossos dias.

     No que se refere a história da tradição pentecostal no Brasil, não se deve perder de memória que o teor dos sermões pregados por nossos primeiros líderes, cujo resultado era muitas vezes acompanhado de milagres e libertações de pessoas oprimidas, numa eminente demonstração da atualidade dos dons espirituais para a Igreja de Cristo, aliás, a evidência das manifestações dos dons espirituais foi o grande diferencial das AD's em relação as demais denominações evangélicas no país, e esse foi um dos motivos de ela sofrer perseguições.

     De igual modo, manter a identidade pentecostal sem se preocupar em agradar ou responder àqueles que se posicionam contra, é questão de sobrevivência para nossa denominação, posto que esta é uma Doutrina Bíblica e não uma invenção humana. Os crentes das AD's foram alcançados pelo poder de Deus e, quase todos eles, têm algo a contar no que tange à sua experiência pessoal com o Senhor, de como foram transformados através disso e de sua poderosa palavra. Pois que, ninguém se converte a Cristo por meio de retóricas esteticamente belas e/ou oratórias irretocáveis, mas pelo poder de Deus através do Evangelho. E essa é a marca de origem das AD's, ela precisa ser levada adiante pelos membros atuais, tanto quanto o fizeram os crentes que nos antecederam. Os primeiros missionários viviam uma relação constante de teoria e prática nas suas pregações, eles não se aperfeiçoaram em ensinar a viver teorias, mas buscavam ensinar e viver a ortopraxia.

Como as AD's estão agora?
        
     Para tentar detectar alguns indícios sólidos de como está a maior denominação pentecostal do  mundo, é preciso reconhecer seu natural crescimento nas diversas Doutrinas Bíblicas, cujo aperfeiçoamento se deu paulatinamente, como qualquer outra denominação histórica. Dentre estas doutrinas, talvez o mais caro referencial teológico das AD's seja a Doutrina Pentecostal.  Portanto, é tarefa é dificílima entrar nesse ambiente teológico, tendo em vista que, buscar conscientizar o público assembleiano de que a Doutrina da Graça e Conhecimento (Grifo nosso) nunca deixaram de caminhar juntas, mas essa verdade jamais foi algo simples de ser aceita na prática pela maior parte dos membros das AD's e, talvez, ajustar este tema sem pender para um dos lados seja o maior desafio da nossa denominação nesta e na próxima geração.

     A bem da verdade, sabe-se muito bem que as AD's entendem perfeitamente qual é o real significado de ambas as doutrinas, tanto no contexto bíblico/teológico quanto na terminologia pentecostal. Mas isso não é consenso em todas as camadas assembleianas, pois há considerável público que entende de modo bem periférico que o conceito e a definição de graça e conhecimento,  não podem se limitar somente ao que a Bíblia registra. Ou seja, uma simples definição de ambas as doutrinas na linguagem bíblica não satisfaz completamente alguns ramos pentecostais que rejeitam o "pentecostalismo clássico", tendo-o como um movimento apenas tradicional. Daí surgem teologias paralelas aproveitando-se da ignorância bíblica de muitos cristãos pentecostais para semear misticismos e modismos, produzindo palavras de efeito como "aviãozinho, reteté etc...," e outras ilusões, alimentando assim os incautos e os levando a desejar permanecer numa cultura de gueto e nanismo bíblico.

     Repiso que se deve preservar a tradição, mas por valorizar demasiadamente seu passado muitas AD's atuais parecem se esquecer do presente e correm sério risco de permanecerem andando em círculo, numa espécie de saudosismo sem fim (algumas já vivem tal sintoma). Essa atitude pode dar luz a uma possível depressão religiosa que levará a denominação a parir um tipo de amnésia com respeito ao real cumprimento da ordem imperativa dada por Jesus concernente a evangelização. É certo que com o passar do tempo muitas igrejas locais se rendem ao saudosismo e por conta disso tendem a perder seu entusiasmo ao invés de ganhá-lo cada vez mais, mas isso geralmente ocorre porque elas estão propensas a dar maior atenção para o que já foram, esquecendo-se do que já são ou estão se tornando.
 
     Todavia, o escritor aos Hebreus é taxativo quando escreve de maneira perfeita e pontual, nos mostrando a atualidade e superioridade de Jesus na sua carta: "Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente." (Hb. 13.8). Ora, é evidente que Jesus Cristo por ser eterno, é o mesmo ontem, hoje e sempre. Logo, estas palavras devem nos animar no espírito e nos impulsionar a erguer nossa autoestima, acreditando nesta geração de tal modo que entendamos ser ela a quem de fato Deus escolheu para levar adiante o seu projeto de Igreja nestes dias. E isso sem exigir que ela seja uma reprodução da geração que passou, pois aquela geração cumpriu a sua missão e fez tudo que foi possível dentro de suas limitações, agora é esta geração quem está encarregada de levantar a bandeira do Evangelho e cumprir na íntegra o que Deus tem para ela no tempo chamado hoje.

     Para tanto, é necessário não apenas incentivá-la, mas investir pesadamente e de modo bíblico, principalmente nas vidas joviais que estão dentro das nossas AD's, isso nos âmbitos espiritual, moral, teológico e cultural. Se o fizermos entendendo o nosso contexto sem colocar sobre eles a pesada e desumana sentença de que devem ser "como foram nossos pais assembleianos", certamente teremos exímios pregadores, excelentes ministros do evangelho e muitos missionários, todos aliviados de uma carga que nem mesmo nós conseguimos carregar. Desse modo, teremos mais chances de avançar e arrebatar milhares de vidas para Jesus. Estes, estão lá fora aguardando a mensagem da salvação dada por Deus às AD's de hoje, que está em nossos lábios e corações, sobretudo nos lábios daqueles que nos substituirão. O grande desafio é (fora de contexto) entender e praticar o que disse Jesus: "[...] deveis, porém, fazer essas coisas e não omitir aquelas" (Mt. 23:23c).

Onde as Assembleias de Deus intentam chegar?
       
     Buscar e encontrar caminhos de aperfeiçoamento nas estruturas da denominação para esse tempo é indispensável. Isso se refere também nas estruturas Bíblico/teológica – formação ministerial no ensino, metódica e permanentemente. Esse é um assunto delicado, pois à medida em que a denominação cresce, naturalmente surge novas demandas, a formação teológica é uma destas demandas. Um olhar atento para isso é extremamente necessário, todavia, por esse artigo se tratar de um texto bem objetivo, cito apenas dois pequenos parágrafos como ponta de um grande iceberg, porquanto não seja possível tratar desse tema com a devida importância que ele merece.

     É vero que a educação secular vista de modo geral se expandiu muito em nossa nação, todavia, engana-se quem pensa que por conta disso o ensino de qualidade se universalizou. Na verdade, o ensino de qualidade foi separado propositadamente e continua bem elitizado no nosso país, mas isso não é apenas no ensino secular, o ensino teológico também continua elitizado. A educação teológica ainda não é uma realidade de fácil acesso para obreiros menos favorecidos, que heroicamente cumprem o seu ministério. Numa linguagem sociológica, a estratificação social é notória, basta olhar para obreiros que cumprem o seu ministério na população ribeirinha, e nas muitas periferias deste imenso país, eles sim, são verdadeiramente dignos de nosso respeito e de nossa maior admiração, pois apesar de suas gigantescas dificuldades em vários sentidos, são eles que impulsionam o crescimento das AD's no Brasil.
  
     Estes obreiros, bivocacionados por natureza e em muitos casos por obrigação, são desafiados diariamente a trabalhar secularmente e ainda assim cumprir cabalmente o seu ministério. Muitos deles sequer têm condições de pagar um curso básico em teologia e não recebem meios de fazê-lo gratuitamente pela sua instituição; diferente das igrejas históricas reformadas, onde naturalmente a maioria de seus ministros além de terem formação teológica superior, recebem bolsa para se especializarem.

     O resultado disso é presenciarmos cada vez mais uma diversidade de obreiros das AD's que, por conta de serem bem-intencionados, tornam-se vítimas e caem no conto de fadas de charlatões e supostos teólogos de redes sociais, que lhes oferecem cursos vernizes, em geral estes cursos são promovidos por mercenários da fé, que estão sempre prontos para oferecer e entregar diplomas teológicos sem conteúdo algum. Uma maneira de nossa denominação combater essa praga é buscar meios de incentivar e facilitar o caminho para que nossos obreiros possam se aperfeiçoar teologicamente, promovendo cursos gratuitos para que os mesmos possam estudar sem a devida preocupação com pagamento de mensalidades que lhes pesam no orçamento familiar.

    Isso posto, a igreja destes dias deve seguir os passos da igreja dos dias passados no que tange à evangelização, ou seja, deve ser geracional e transferível. Fazendo dessa forma a comunidade da fé atual não correrá o risco de se estagnar e apenas ficar lutando para preservar uma imagem passada, como um meio de sua sobrevivência. Por fim, antes de ascender ao céu o Senhor Jesus deu ordens taxativas a seus discípulos, dentre elas: Ide e Fazei; de graça recebei, de graça também dai. Ou seja, a missão da igreja é ganhar, gerar e transferir a doutrina de Jesus às gerações de seu tempo através da propagação da mensagem da redenção (Mt. 28:19,20; At. 1.8).

4. Terceiro Desafio: Abandonar a Linguagem Negativa da Geração Passada (Os Cacoetes)

     A geração que nos antecedeu nos deixou um legado profícuo, com ela aprendemos a construir uma fé sólida, dela obtivemos coisas extraordinárias que devemos passar adiante. Mas não devemos romantizar a história e ignorar que como qualquer geração, ela também cometeu acertos e erros. Um desses erros é repetidamente aflorado pela geração a qual pertenço e eu o denomino de "cacoetes assembleiano", quando cito esta nomenclatura não o faço com algum tipo de preconceito. 
Cacoetes (Tique nervoso) – "série de comportamentos repetitivos sem contexto, porém, com poderosa causa psicológica, muitas vezes, sem que o praticante se aperceba."

     Portanto, é óbvio que aqui não estou me referindo a cacoetes de modo literal e nem tampouco sendo preconceituoso com tal questão, pois sabe-se que seus portadores não têm culpa alguma em tê-los e, muitos convivem com eles de forma natural, outros, porém, por terem cacoetes mais severos, buscam tratamento para atenuar sua remissão. Apenas quero me referir ao vício de linguagem e inclinação inconsciente que muitos líderes assembleianos praticam hoje em suas palestras e pregações. Um desses CACOETES é confundir a pregação com o ensino.

     Por vezes nos deparamos com obreiros e ministros das AD's que por não fazerem diferenciação entre ambos os propósitos das palavras, não alcançam o objetivo desejado nas suas ministrações. Eles começam a ministração do ensino e em pouco tempo, sem perceberem, se envolvem com a devolutiva calorosa do público e mudam a tônica de sua mensagem transformando-a em um sermão. Ora, é sabido que dentre outras tarefas secundárias, a Igreja de Cristo tem uma tríplice missão: ADORAR (Submeter-se a Deus, obedecê-lo em amor); EVANGELIZAR (Querigmar, proclamar, anunciar o Evangelho) e; EDIFICAR (Ensinar, discipular). De modo bem simples, pregar e ensinar significam:

PREGAR – é anunciar, divulgar, PROCLAMAR e exortar com verdades bíblicas e teológicas. Ou seja, COMUNICAR o Evangelho aos ouvintes;                                                                                
ENSINAR – ensinar é instruir ou educar, no caso em questão, EXPLANAR e EXPLICAR de maneira mais detalhada as verdades bíblicas e teológicas, dialogar e interagir com os presentes.

     Outro CACOETE que muitos ministros das AD's têm e sentem dificuldades de se livrar é o de confundir Doutrina bíblica com costumes denominacionais. Isso é algo comum de se presenciar no trigal assembleiano, seja em AGO's, ELAD's, EBO's, EBD's etc. Não quero de modo algum me posicionar contra nossos costumes, posto que eu mesmo sou um grande defensor dos mesmos e, como muitos, também aprendi com os mestres que nos antecederam quando diziam que: "Uma igreja bem doutrinada tem bons costumes", portanto, não me coloco contra esse pensamento e postura. Mas quero chamar a atenção de que muitos pregadores e ensinadores são traídos pelas circunstâncias que os cercam, quando, pouco tempo depois de começar a desenvolver suas ministrações, se esquecem do real objetivo a que foram convidados a falar, que é puramente o de pregar ou ensinar a palavra de Deus.

     A essa altura, muitos desses ministros dão lugar a jargões que em nada edificam e se voltam para alguns pensamentos e posturas já ultrapassadas dos nossos pais pentecostais e, com isso, "ressuscitam" algumas de suas frases que já não fazem mais sentido para a nossa realidade. Estes, por falta de preparo, por oscilação ou por serem levados pelo vento emocional do público, perdem a direção do assunto, e dão vazão a desabafos saudosistas esquecendo-se do motivo real de eles estarem ali, que é o de ministrar a santa palavra de Deus. O resultado é catastrófico, pois os mesmos, sendo levados pelos ecos de aprovação do auditório, não conseguem mais voltar ao foco principal da mensagem e patinam em círculo seguindo na direção contrária ao que lhe fora proposto, perdendo desse modo uma oportunidade ímpar de contribuir para o crescimento espiritual e ministerial dos obreiros presentes. Infelizmente essa é uma realidade visível nas nossas AD's. É preciso que, ao ser encarregado da pregação do Evangelho, o obreiro ou ministro tenha a real dimensão de sua responsabilidade e se lembre da exortação paulina:

"Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, que pregues a palavra, instes a tempo e foras de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina." (2Tm. 4.1,2)

O conselho do apóstolo Paulo deve ser seguido por todos quantos se dispõem a pregar a palavra de Deus, ele é de fundamental importância e, sem obedecer a essa exortação, o pregador/ensinador desperdiça o precioso tempo lhe dado para tal fim, destoando desse modo, da real finalidade para qual fora chamado.

     Por fim, estes e outros desafios estão diante da nação assembleiana atual, ignorá-los ou negá-los não ajudará a maior denominação do país. Precisamos sim, de fato, enfrentá-los com serenidade e maturidade espiritual; com o testemunho dos que nos antecederam; com a fé sólida que nos foi dada pelo Espírito Santo; com o equilíbrio suficiente que se exige e se espera de uma igreja histórica, e as Assembleias de Deus o tem. É nisso que creio e é assim que penso! Soli Deo Glória!


Pr. José Verneques Santos
Presidente da AD - Ministério Paulista
Primeiro Secretário da COMADESPE
Graduado em Teologia IBAD/FABAD
Pós-graduado em Ciências da Religião FATEMIG/IBEMIG
Autor dos Livros:
. Jornada Ministerial
. A Suficiência do Evangelho de Cristo para Sua Igreja
. Igreja e Política, Caminhos Paralelos Para Alvos Diferentes
. Por um Discipulado Segundo Jesus Cristo
. O Deus Homem, A Incomparável História de Jesus Cristo

2 comentários:

  1. Entendo também ,que maior desafio das igrejas ,será dentro dela mesmo ,proibir a entrada do mundo .

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  2. Caro pastor Verneques,

    Li o teto e aproveito este canal para comentar.

    O senhor levantou questões importantes para serem pensadas e discutidas pelos assembleianos de nossa geração.

    Para mim, a forma como o senhor demonstrou a defesa doutrinária realizada pelos apóstolos e também pelos pais da igreja foi esclarecedora.

    Outro ponto que destaco está na exposição dos desafios. No meu pensamento, nunca foi tão necessário fazer a autocrítica na questão do discurso fundante, me refiro aos pais da ADs.

    Os escandinavos fizeram excelente trabalho, mas entendo que foi para aquele tempo e contexto. Se os mesmo estivessem pregando em nossos dias, será que a forma de transmissão da mensagem seria a mesma? Não questiono a mensagem, mas a forma em que ela foi pregada. Veja:

    Não é possível compreender a mensagem pregada pelos escandinavos sem o auxilio da história. Naquela época, os professores de história podem contribuir nisso, o catolicismo dominava o Brasil. Há registros de que ele estabelecia quarentena nos portos, buscando impedir que missionários protestantes desembarcassem em solo brasileiro. O resultado foi a enorme inimizade entre os cristãos católicos e pentecostais. Essa inimizade ainda é grande entre os dois grupos e é refletido de muitas formas.

    O discurso antiacadêmico é outro ponto a ser pensado. Por conta do discurso escatológico, arrebatamento que também creio e espero, os pentecostais não foram incentivados ao estudo acadêmico. O resultado disso se vê na carência de pentecostais nos diferentes postos de trabalho nos setores da sociedade e até na dificuldade de diferenciar a pregação de um estudo ou palestra.

    O olhar sociológico sobre a educação teológica pentecostal "elitizada" foi um show! Nem consigo comentar, mas pensar em como não entrar nesse círculo.

    Tenho valorizado e me alegro pelo trabalho dos pais assembleianos, mas não posso ser romântico, nem mesmo em relação a mim ou ao trabalho que faço na igreja que pastoreio. Sei que o Senhor Jesus tem alguém para colocar em meu lugar, que irá além dos limites que atingi.

    Por essa razão, em meus discursos provoco os ouvintes dizendo: em algum momento vou parar, Afinal, a carreira tem fim, e vocês o que farão? Não romantizar o que foi feito e nem o que se está sendo feito é também responder a essa questão.

    Pastor, meus parabéns!

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Point Rhema