O GRANDE DILEMA - Por Dra. Samara Freitas
"Aqui está uma grande ironia: proclamar tanto amor e experimentar tanto ódio. Mas não desistam. Não se deixem abater. No final, valerá a pena. Vocês não estão perseguindo o sucesso, mas apenas tentando sobreviver. Sejam sobreviventes! Antes que se esgotem as opções, o Filho do Homem estará de volta" - Mt 10: 22-23
Bom seria se nossos colegas, nossos vizinhos e as pessoas com as quais convivemos diariamente fossem sempre boas e buscassem conviver conosco da melhor maneira que pudessem. Que ninguém fingisse que trabalha. Que ninguém pensasse ou falasse mal de seus companheiros. Que todos fossem confiáveis e exercessem a fidelidade. Que ninguém defraudasse a organização. Que todos proclamassem a verdade e vivessem com sinceridade de ações. Que as demonstrações externas fossem de fato as inclinações do coração. Mas, infelizmente, muitas vezes não é assim. Quase nunca, é assim.
A realidade é que em alguns momentos, inevitavelmente, paramos e analisamos o ambiente e as pessoas que nos cercam, e o que vemos, muitas vezes, é desanimador. A desconfiança invade nossos corações e uma sucessão de eventos que nos frustram tendem a tornar-nos céticos de que o exercício da credibilidade deve ser realizado mais uma vez.
O fato é que nos tornamos cada vez mais descrentes de que podemos ser surpreendidos positivamente pelo outro, uma vez que somos constantemente feridos pela deslealdade e abatidos por afrontas e acusações. E isso dói, desanima e é difícil de se enfrentar. Assim, colocamos em nossos olhos vendas de conforto para o nosso coração. Convivemos com o que nos machuca tentando não nos importar com a realidade. Compramos a devastadora ideia de que todos são assim e de que não há para onde fugir, sempre será assim. Acreditamos que as pessoas nos machucam e temos que aprender a conviver com isso. Consideramos como única saída a opção de não confiar mais uma vez. Que grande descrédito depositamos no outro e que cruel sabotagem à esperança que diariamente luta para se manter viva em nós.
Bom seria se todos fossem bons, mas não isso não é real e dói enfrentar essa realidade. Mas isso é inevitável. Cedo ou tarde descobrimos. E é nesse momento que temos em jogo o grande dilema: ser ovelha ou transformar-se em lobo. Ser gregário e sensível ou tornar-se um predador. Usar a potência de ter dentes afiados e estar sempre pronto a atacar ou permitir ser guiado por um pastor. O que queremos ser? O que vamos ser?
Queremos de fato ser a mudança que almejamos? A pessoa confiável que tanto sentimos falta no nosso dia a dia ou queremos ser alguém que não é vulnerável e também está pronta a atacar? Quais armas estamos usando para não se machucar mais ?
Passamos a acreditar que confiar, ou exercer a fidelidade realmente machuca mais do que o isolamento e manutenção da superficialidade das relações. Somos inclinados a pensar que conhecer demais o outro é frustrante. E passa a ser terrível viver rodeado de pessoas ruins. Que nos machucam, que nos ferem e que são desleais conosco.
A blindagem da alma, dos sentimentos e da afetividade tornaram-se então a tentativa de sair da posição de ovelhas e subir ao nível de lobos, que são "mais fortes", que são predadores e que uivam ao invés de ouvir. Passamos a acreditar que não confiar ou não se entregar de fato as relações interpessoais ou afetivas é uma blindagem para possíveis sofrimentos que a convivência pode trazer. Queremos adquirir couro, queremos nos tornar espertos o bastante para não sermos enganados outra vez, queremos que saibam o quão protetivos somos às ameaças emocionais ou às afrontas que antes nos machucavam.
Mas a realidade é que, dessa forma, nos tornamos o mais perto possível de tudo o que abominávamos. Essa é uma alternativa desesperada de proteção, uma alternativa para o medo, uma saída para as ameaças de ódio e para a desconfiança no outro que mina dia após dia em nosso coração, fruto da amargura de experiências passadas.
A associação das nossas experiências desgastantes e frustrantes às palavras constantes de uma sociedade que nos diz que o mundo é realmente mau, de que o ser humano é inviável e de que a nossa criação foi um erro, uma vez que somos incapazes de ser bons, é autodestrutiva. Acreditar que não há mais esperança para nós e que as relações humanas são complicadas demais, cansam e são desgastantes nos faz acreditar que fomos feitos para viver sozinhos, ou pior, que não é possível viver. Que não é possível encontrar pessoas que ao nosso lado, possam ser felizes e nos trazer também felicidade. Mas essa é, na verdade, uma grande mentira que precisamos não mais acreditar ou valorizar.
Diariamente somos convidados a viver sozinhos, a nos isolarmos ou até mesmo a desistirmos de investir em relacionamentos. Relações de confiança quebradas, expectativas depositadas em algo ou alguém que não foram atendidas e sermos constantemente submetidos a ações não sinceras, nos fazem realmente não acreditar que podemos ser homens e mulheres confiáveis, com relacionamentos saudáveis e felizes.
Mas o grande ponto é que analisamos sempre somente o quão quebrados fomos ou estamos. Quanto sofremos, só conseguimos analisar como podemos reagir ao que nos machuca. Mas a grande pergunta que cabe aqui é: E quanto a nós? Em relação a mim e você? Quem temos sido? E como podemos superar a desconfiança no outro e nas relações felizes? O que eu e você temos feito para que exista mais verdade no mundo? Será que podem confiar em nós? Se não, porque espero que sejam confiáveis para comigo?
Fato é de que somos muito quebrados por ações dos que nos rodeiam. Mas e quanto a mim? O que eu tenho sido onde estou?
Quando analisamos esses questionamentos, a realidade dura e confrontadora é que também não somos bons. Diariamente somos desleais e também ferimos com atitudes e ações. E quanto a mudança que quero? E quanto ao amigo leal que tanto sonho em ter ao meu lado? Isso começa em nós e a verdade irrefutável é que sozinhos não conseguimos. Isso porque só existe Um que exerce em plenitude bondade e lealdade, e essa pessoa é Jesus. Realmente não somos bons e nunca seremos plenamente bons, não como Jesus é. E apesar de uma intensa tristeza poder tentar invadir nossa alma nesse momento, há uma grande saída, uma porta de esperança.
Isso porque quando aceitamos nossa maldade, mas aceitamos que Jesus e sua bondade faça morada em nós, há um catalizador na nossa alma que nos inclina diariamente as coisas que vem do alto. Isso nos anima, cria em nós esperança e nos inclina a caminhar na contramão do pensamento de que somos realmente ruins, mas que não há saída para nós.
A ação do Espirito Santo, diária em nós, trabalha por uma transformação integral. Corpo, alma e espírito inclinados a filtrar nossas ações pelo filtro do Espírito Santo, de forma que não sobre espaço para pensamentos de que é impossível começar em nós a transformação que tanto almejamos.
Deus trabalha em nós por pensamentos vindos do céu, repletos de paz, alegria e esperança em dias melhores, pessoas melhores e relacionamentos saudáveis e felizes. Ele trabalha pelo pensamento de que apesar de maus, recebemos a garantia em Cristo Jesus que por Ele e para Ele podemos ser homens e mulheres de caráter. Confiáveis, leais, verdadeiros e sinceros em ações e pensamentos.
O ponto é que quando estamos em Cristo e permitimos a ação do Espirito Santo em nós, tais ações e pensamentos fluem D´ele e chegam a nós de forma leve e simples de maneira que nossas ações e atitudes são resgidos por Cristo.
Não passamos a agir perfeitamente, só Cristo é perfeito e bom. Mas permitimos que a vontade D´ele se aperfeiçoe em nós, até que sejamos, dia após dia, transformados. Há espaço para a transformação. Há espaço também para ovelhas que são guiadas por um pastor tão amável como Jesus.
Não é ultrapassado ser obediente a voz do Senhor, não é fraqueza oferecer o perdão a quem nos feriu, não é se passar de bobo calar-se mediante às afrontas.
Deixar ser movido por Deus nos torna, de forma leve, alguém que realmente apesar de mau, de realmente muito mau, todos os dias é guiado por um bom pai, que não nos deixa enganar e que nos mostra sempre o caminho a seguir. Alguém que nos torna confiáveis e nos ensina a lidar de forma eficaz com o que nos abate e nos causa tristeza.
Somente Jesus é capaz de transformar nossos corações. Somente Ele limpa magoas e ressentimentos. Somente Ele restabelece, de forma real, a confiança em relacionamentos e em pessoas que temos almejado em nosso coração. E, acima de tudo, nos torna pessoas confiáveis, sinceras e leais, a ponto de também sermos uma pessoa que reflete verdade, e que, há muito tempo, um outro alguém também tem procurado.
Dra. Samara Almeida de Freitas - Membro da Assembleia de Deus Belenzinho - Setor 19 - Guarulhos - Médica
Ótimo texto! Exelente!👏👏👏
ResponderExcluirMaravilhoso!!!!!
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