“O tempo do fim não o fim do mundo, mas é o tempo de tratamento de Deus com o povo de Israel, que serve de sinal da vinda de Cristo”..
Leia Dn 8.1-27
Se fizermos uma digressão ao conteúdo dos capítulos 2 ao 7, Daniel apresenta a história e profecia relacionadas diretamente com as nações gentílicas. Nos capítulos 3 e 6 a história ganha um sentido especial porque fala da vitória do remanescente judeu contra as influências pagãs. O capítulo 4 é um testemunho que o Rei Nabucodonosor faz acerca da sua experiência que o levou a tornar-se insano e agir como um animal do campo, fruto do juízo da parte de Deus, que por fim o restaurou da sua insanidade mental. No capítulo 5, temos a queda do Império Babilônico, por ocasião da festa de Belsazar.
Nesta festa, com a profanação dos vãos sagrados do templo de Jerusalém, Deus intervém na festa e sua mão escreve na parede do salão de festas a sentença de juízo contra o Império Babilônico. No capítulo 6, a história de Daniel na cova dos leões é inserida na história que o profeta quis contar, mas que o fato havia acontecido 60 anos depois, no primeiro ano do reinado do rei Dario, o medo, aproximadamente no ano 539 a. C. Daniel teve o propósito de enfatizar a fidelidade em meio a desobediência civil ante leis e decretos que tinham como objetivo se opor ao Deus de Daniel.
Ao chegar ao capítulo 7, Daniel dava início à segunda parte do livro. A partir de então, as visões foram específicas a Daniel, tratando do futuro do seu povo (Israel) e das nações do mundo representadas pelas figuras dos quatro animais com caraterísticas diferentes que lembram as figuras mitológicas do mundo pagão. Neste capítulo temos a segunda visão de Daniel. No capítulo 7 aparecem os quatro animais representativos dos impérios que governaram o mundo de então, mas que prefiguravam o juízo e o estabelecimento do reino de Deus na terra num tempo especial. Neste capítulo, Deus revela a Daniel o futuro desses impérios por meio de sonhos.
Chegamos ao capítulo 8, quando Deus revela o destino desses impérios por meio de uma visão que tem um caráter particular. Neste capítulo, Deus mostra a Daniel a queda dos dois últimos Impérios, o Medo-persa e o Grego, representados pelas figuras de outros animais: um bode e um carneiro. Os mesmos impérios tratados no capítulo 7 e representados pelo Urso (7.5) e pelo Leopardo (7.6) ganham um sentido especial e particular no capítulo 8. Os dois outros animais, com caraterísticas especiais eram um carneiro (8.3,4) e um bode (8.5-9). Ambos eram animais poderosos, mas foram destruídos, porque ninguém prevalece contra o Cetro de Deus.
Chama atenção a partir do capítulo 8 a mudança de idioma utilizado por Daniel. Nos capítulos 2 ao 7, o idioma do texto foi o aramaico dos gentios, no qual Deus trata diretamente com as nações gentílicas. Nos capítulos 8 ao 12, o idioma foi o hebraico, porque a visão dizia respeito, essencialmente, ao povo judeu, sob o domínio desses impérios mundiais.
Porém, no capítulo 8, Deus revela a Daniel as caraterísticas dos dois Impérios, o Medo-persa e o Grego, representados por dois animais, “o carneiro e o bode”. Os elementos históricos da profecia tiveram seu cumprimento no passado; porém, algumas caraterísticas desses dois impérios personificam o futuro de Israel e o que acontecerá no “tempo do fim”(Dn 8.19).
I - ASPECTOS GERAIS DAS VISÕES DE DEUS A DANIEL
Nos tempos antigos a linguagem figurada era utilizada, especialmente, pelos povos pagãos. A cultura da época ilustrava valores e aspectos humanos através de componentes da natureza, do mundo animal. Neste capítulo, o escopo é menos abrangente, mas não menos importante, porque a visão tem apenas dois animais que surgem poderosos e ultrajantes pelo poder de violência e destruição que promovem. Nesta visão, Deus mostra a Daniel esses dois animais que representavam força, energia, autoridade, poder e perspicácia na invasão das nações e no domínio sobre os reis vencidos.
A visão dada a Daniel (8.1)
O texto literalmente diz: “apareceu-me, a mim, Daniel”. Daniel estava, de fato, distinguindo as visões dadas a Nabucodonosor nas quais ele foi apenas o intérprete das visões pessoais que Deus lhe deu. O caráter das visões concedidas a Daniel era moral e espiritual, enquanto que, as visões dadas a um rei pagão tinha um caráter material e político. Sonhos e visões são vias pelas quais Deus revela a sua vontade, mas não são únicas maneiras de Deus falar.
A data da visão (8.1)
Não há uma data certa, mas aproximada, quando os estudiosos entendem que o ano primeiro seja 541 a.C., e o ano terceiro teria que ser 539 a.C., que foi o ano da tomada da Babilônia pelos medos e persas. O texto indica que Daniel estava em Susã, capital da província de Elão.
O local da visão (8.2)
O texto declara que Daniel se viu junto ao rio Ulai: “vi, pois, na visão, que eu estava junto ao rio Ulai”. Alguns comentaristas seguem a ideia de Leon Wood que entende que Daniel não esteve fisicamente em Susã, mas que foi transportado em espírito junto ao rio Ulai para ter essa visão. Não há necessidade de discutir se esteve realmente em Susã ou não. O que importa é que Deus estava dando a Daniel uma visão que retratava ascensão e queda dos dois impérios que aparecem na visão como o carneiro e como o bode. Posteriormente, esse rio mudou seu curso e se dividiu em dois outros rios, identificados como os rios Karon e Kerkah.
II - A VISÃO DE DOIS ANIMAIS - O CARNEIRO E O BODE
Deus, em sua infinita sabedoria, utiliza elementos da cultura que prevalecia nos dias de Daniel, mesmo que ele não precisasse de figuras mitológicas para entender as verdades divinas. Deus utiliza as figuras mitológicas do mundo animal para dar a Daniel uma visão ampla sobre dois impérios que viriam e que fariam parte da estratégia divina para revelar a Israel a soberania de Deus sobre todas as nações.
A visão do Carneiro (Dn 8.3,4,20)
Na visão, Daniel estava diante do rio Ulai e, de repente, surge na visão um carneiro doméstico, mas que era audacioso e estava “diante do rio”. O carneiro era forte e tinha dois chifres, um maior que o outro. Esse carneiro simbolizava o Império Medo-persa que era o símbolo da aliança imperial dos medos e dos persas (Dn 8.20).
Os dois chifres “o qual tinha duas pontas; e as duas pontas eram altas, mas uma era mais alta do que a outra“ (8.3). Na versão ARC, a expressão fala de duas pontas que são traduzidas em outras versões como dois chifres. Portanto, o.s dois chifres do carneiro são os dois reis da Média e da Pérsia. Segundo os historiadores, no caso dos persas, os seus reis sempre levavam como emblema uma cabeça de carneiro em ouro sobre a cabeça deles, principalmente quando passavam em revista os seus exércitos. De acordo com a história, a princípio, os medos haviam prevalecido na guerra contra a Babilônia e teve Dario como o primeiro governante daquela união entre a Média e a Pérsia.
Porém, logo os persas prevaleceram em força e Ciro tornou-se o rei do império. O carneiro, com seus dois chifres, representado pela união da Média e da Pérsia, identificado como o Império Medo-persa venceu e derrotou o Império Babilónico quando Belsazar estava no poder. No mesmo dia em que Belsazar zombou dos vasos sagrados da Casa de Deus trazidos do Templo de Jerusalém. Nota-se que há uma repetição do predito na visão do capítulo 7 sobre o segundo e o terceiro impérios, porém, Deus, com uma maneira especial de aclarar a mente de Daniel mostrou a ele o que estaria fazendo no futuro desses impérios e com o próprio povo de Israel. Os dois chifres do carneiro são destacados, tendo um dos chifres maior que o outro. O chifre maior (“o mais alto”) representava Ciro, o persa (8.3) e o chifre menor representava Dario, da Média.
Marradas do Carneiro, “vi que o carneiro dava marradas para o ocidente e para o norte, e para o meio dia” (8.4) — São três direções audaciosas do carneiro dando marradas, isto é, dando coices com violência para se sobrepor. Interpretando o termo “marrada”, no contexto dessa visão, Daniel percebe que o carneiro com seus dois chifres, representado pelo Império Medo-persa, quando batalhou contra Nabonido, pai de Belsazar, da Babilônia, foi um animal violento e dominador. Suas marradas foram fortes e capazes de suplantar a força militar da Babilônia.
As três direções das marradas do carneiro abrangia todos aqueles países adjacentes que envolviam a Babilônia, Lídia e o Egito, Palestina e outros mais das cercanias do Oriente Médio. Estas três regiões lembram e se comparam literalmente à figura das “três costelas” na boca do urso que Daniel viu em sua visão no capítulo 7.5. As duas visões tratam das mesmas conquistas dos medos e persas. No capítulo 7, os me- dos-persas são representados pelo urso e no capítulo 8.4, eles são representados pelo carneiro. O que Deus queria mostrar a Daniel diferia apenas quanto aos aspectos político do mundo de então e os aspectos moral e espiritual que envolveria esse Império.
(8.4) A força do Carneiro — “e nenhuns animais podiam estar diante dele, nem havia quem pudesse livrar-se da sua mão”.
Na cultura persa, a figura do carneiro era muito popular. Esse animal é sempre referido ao macho das ovelhas. Simboliza força e bravura na defesa da sua família. Seus chifres são símbolos do poder de domínio e autoridade do carneiro para defender seu rebanho. O símbolo mais importante dos medos-persas era a cabeça de ouro de um carneiro que fazia parte da coroa real, do peitoral de bronze dos guerreiros nas grandes batalhas. Na cronologia histórica, Ciro sucedeu a Dario. Eventos importantes aconteceram no período desses dois reis até que o carneiro é vencido e, surge na visão de Daniel a figura de um bode que ataca o carneiro e o vence (8.5-7).
A visão do bode
“eis que um bode vinha do ocidente sobre a terra, mas sem tocar no chão” (8.5).
A figura do bode, na mitologia do mundo de então significava poder, força e ousadia. Velocidade e mobilidade são caraterísticas desse animal que lembram a cabra montês que salta em montanhas de pedra com firmeza e sem resvalar. O bode é um animal que vive em regiões rochosas e inóspitas. O texto diz que “o bode” tinha uma velocidade que nem “tocava o chão”. Está se referindo a Alexandre, filho de Felipe da Macedônia, que surgiu com força incrível e com grande mobilidade para conquistar o mundo, a partir da conquista do Império Medo-persa que não se conteve diante dele. Quando surgiu o bode no espaço que o carneiro dominava, lançou-se contra o carneiro com muita força e domínio, ferindo-o e quebrando, de imediato, os dois chifres. O poder de Dario e Ciro caiu e foi usurpado pelo poder simbólico do bode que representava o Império Grego.
“vinha do ocidente sobre toda a terra” (8.5).
Esse bode vinha do Ocidente com tanta velocidade e força que os seus pés não tocavam o chão. Na realidade, o ocidente é chamado “o poente” da Média e da Pérsia. Em 334 a.C., Alexandre, cruzou um famoso estreito entre os mares Negro e Egeu e com a força militar que tinha foi avançando até o Oriente e derrotou os exércitos dos medos e persas. Por uns dois ou três anos seguintes, Alexandre, definitivamente conquistou o Império Medo-persa por volta de 331 a.C.
III - IDENTIFICAÇÃO DO CHIFRE NOTÁVEL (Dn 8.5-9)
“aquele bode tinha uma ponta notável entre os olhos” (8.5). Ele tinha um chifre no meio de sua testa. Era o Império Grego através de Alexandre, o Grande, que, com seus exércitos, suplantavam tudo e agiam com muita rapidez. O carneiro foi totalmente humilhado. Seus dois chifres foram quebrados e o carneiro foi pisoteado sem compaixão pelo bode. Foi uma profecia de completa sujeição e derrota do Império Medo-persa pelos gregos. Daniel vê em sua visão que “o bode” vinha do Ocidente com muita força e rapidez e representava o novo Império, o Grego.
Quem era a “ponta notável”? (8.5)
Daniel vê em sua visão que o bode tinha “uma ponta notável”, isto é, o bode tinha “um chifre no meio dos olhos” que chamava a atenção e, histórica e profeticamente estava se referindo ao líder mundial que ficou conhecido como, Alexandre, o Grande. Sob seu comando, representado pelo bode, quando deparou-se com o carneiro, quebrou os dois chifres do carneiro (Média e Pérsia). Na visão de Daniel, o bode demonstrou ter uma força superior ao do carneiro. Esse bode era, não só constituído de força e violência, mas tinha uma mobilidade ímpar. Esse “chifre notável” tornou-se, portanto, o grande conquistador por um espaço curto de tempo. Ele, Alexandre, era filho de Felipe da Macedônia, o qual fora educado aos pés do grande sábio grego Aristóteles. Ele nasceu na Macedônia em 356 a.C. Era de uma inteligência avançada para o seu tempo. Quando tornou-se o grande comandante das milícias gregas, a começar pela Macedônia, Alexandre demonstrava perspicácia e tenacidade ante os seus liderados. Ele era capaz de convencer seus liderados, generais e soldados, a superarem suas forças para conquistarem terras e mais terras.
(8.6,7) A violência do bode unicórnio. Era um animal unicórnio por causa do “chifre notável” que tinha sobre a fronte. O texto diz que esse bode investiu com todas as forças sobre o carneiro e quebrou, de imediato, os dois chifres do carneiro. Ciro e Dario foram quebrados, e a união da Média e da Pérsia foi suprimida pela força desse bode, ou seja, o Império Grego que sucedeu ao medo-persa.
O chifre notável é quebrado repentinamente - “mas, estando na sua maior força, aquela grande ponta foi quebrada” (8.8) - Quando Alexandre gozava do maior prestígio que um grande rei podia experimentar, no auge de sua glória militar e política, o jovem conquistador perdeu a vida de modo misterioso no ano 323 a.C. A profecia que Deus deu a Daniel uns 200 anos antes se cumpriu cabalmente na vida de Alexandre, o Grande.
IV-A DIVISÃO DO IMPÉRIO GREGO EM QUATRO PARTES
“e subiram no seu lugar quatro também notáveis, para os quatro ventos do céu” (8.8). O cenário muda completamente com a morte de Alexandre, o Grande. Seus quatro principais generais de guerra surgem como “quatro pontas notáveis no lugar da “ponta (chifre) notável”. Esses quatro chifres menores, porém, notáveis, representam os quatro generais que assumiram o Império Grego depois da morte de Alexandre, o Grande. Os quatro chifres que surgem em lugar do chifre notável são representados pelas quatro cabeças do leopardo de Daniel 7.6. Como já tratamos no capítulo 7 da identificação dessas quatro divisões do Império Grego, apenas as citamos pelos generais Cassandro, Lisímaco, Selêuco e Ptolomeu, aproximadamente no ano 301 a.C.
Surge mais uma ponta pequena no cenário profético — “E de uma delas saiu uma ponta (chifre) mui pequena, a qual cresceu...” (8.9). Não devemos confundir esse “chifre pequeno” com o chifre pequeno de Daniel 7.8, 20,21, 24,26. Note que “o chifre pequeno” da Daniel 7.8 surgiu entre os 10 chifres do “animal terrível e espantoso” que se refere ao Império Romano. Porém, na visão de Daniel no capítulo 8, “o chifre pequeno” surge de um dos quatro chifres do bode, e diz respeito a um líder cruel da família de Seleuco, da Síria. Esse personagem é identificado, histórica e profeticamente, como Antíoco Epifânio.
Na visão, Daniel o vê surgir como “uma ponta mui pequena”. Porém, esta “ponta pequena” cresceu muito, especialmente direcionada para a “terra formosa “que se tratava de Israel. Antíoco Epifânio, da família dos selêucidas ficou conhecido como Antíoco IV e tornou-se um opressor terrível contra Israel. Ele surgiu da partilha do império de Alexandre e a ele coube o domínio da Síria, Ásia Menor e Babilônia, cuja capital era Antioquia.
Outrossim, esse “chifre pequeno” de Dn 8.9 não pode ser confundido, também, com a “ponta pequena” de Dn 8.5 que refere- se a Alexandre, o Grande. Já dissemos que “a ponta pequena” do animal terrível e espantoso de Dn 7.8 não é a mesma do capítulo 8.5,9. Porém, no texto de Dn 8.9 essa “ponta pequena” de Dn 8.9, refere-se a esse personagem identificado como Antíoco Epifânio, (175 a 167 a.C.). Ele causou tantos males e destruições na “terra formosa”(Dn 8.9) que pode ser um tipo do futuro Anticristo, ou a Besta de Ap 13.2. Ele quis exterminar com o povo judeu e sua religião, chegando ao ponto de proibir o culto dos judeus a Jeová.
A ultrajante atividade desse Rei contra Israel (Dn 8.10-14)
Os versículos 10 e 11 falam das ações ultrajantes do “pequeno chifre” contra o povo de Deus, profanando o santuário de Israel e tentando acabar com o “sacrifício contínuo” que Israel praticava ao Senhor. Ele teve a audácia de profanar o santuário sacrificando um porco, animal imundo, para a liturgia judaica, além de assassinar mais de cem mil pessoas de Israel. Nos desígnios divinos, Israel estava esquecido por Deus, mas tudo isto fazia parte dos juízos contra as prevaricações de Israel. A seu tempo, Deus restauraria essa situação. Cada situação obedecia a um tempo predeterminado, quando Israel experimentaria, não só o juízo divino mas também a sua misericórdia, conforme declara a sua palavra que “as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos”(Lm 3.22).
“e ouvi um santo que falava” (8.13). E interessante que Daniel notou que dois seres angelicais teceram um diálogo entre si. No Antigo Testamento, a atividade dos anjos de Deus era mais forte para comunicar a mensagem de Deus aos seus servos. Alguns comentadores, entendem que poderia ser, um deles, o anjo Gabriel, o mesmo que apareceu a Daniel junto ao rio Ulai (Dn 8.16). O outro anjo que conversava não é identificado por um nome, mas, do ponto de vista da angelologia, é perfeitamente aceitável. No diálogo entre os dois seres angelicais, um deles pergunta: “Até quando dumrá a visão do contínuo sacrifício e da transgressão assoladora”? Esse sacrilégio contra o Templo de Israel se cumpriu através desse profano Antíoco Epifanio. Sem dúvida, seu personagem profético lembra a blasfêmia do pequeno chifre de Daniel 7.8,24,25; 9.27; 11.36-45 e 12.11. Todas essas referências proféticas indicam o que vai acontecer no futuro, no período da Grande Tribulação, provocada pelo Anticristo.
O tempo de sofrimento de Israel — “Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado” (8.14). O tempo de sofrimento de Israel é revelado a Daniel com linguagem especial ao estabelecer um tempo de “2.300 tardes e manhãs “ que,literalmente, referem-se às atrocidades de Antíoco Epifânio num período de 171 a 165 a. C. No versículo 14 o Senhor revela que, depois daquele período de sofrimento, Ele haveria de purificar o santuário. Essa promessa implica na limpeza da profanação imposta por esse líder cruel contra a Casa de Deus. Os judeus até hoje fazem a celebração da purificação, ou seja, a Festa de Hannakah, que lembra a festa da purificação.
V - ANTÍOCO EPIFÂNIO, O PROTÓTIPO DO ANTICRISTO
A visão do anjo Gabriel (Dn 8.15-18)
“E havendo eu, Daniel, visto a visão, busquei entende-la” (8.15). Essa atitude de Daniel nos estimula a estudar a profecia com cuidado e desvelo. Buscar entender uma escritura bíblica requer de quem a deseja, dedicação e respeito ao que o texto quer dizer. Não dá direito de interpretação aleatória, ou seja, interpretação especulativa.
“se me apresentou diante uma como semelhança de homem” (8.15). O contexto bíblico não deixa dúvidas de que se tratava de um ser angelical que tomou a forma de um homem para falar com Daniel. Os anjos são seres espirituais sem forma qualquer. Por isso, eles podem tomar a forma que for necessária para comunicar a Palavra de Deus. Subtende-se, mais uma vez, que podia tratar-se do anjo Gabriel que se manifesta numa forma humana, a de um homem. Ele se comunica com Daniel e o trata por “filho do homem”. Não devemos confundir essa aparência angelical com uma teofania (manifestação da divindade em forma humana). Neste caso em especial se trata apenas de um ser angelical com forma de homem, para poder comunicar racionalmente com Daniel. O anjo Gabriel comunicou de forma objetiva ao explicar toda a visão que Daniel tivera, distinguindo aspectos históricos e aspectos escatológicos. Ele anuncia a Daniel que a visão se cumpriria no “tempo do fim” (8.19).
Antíoco é o protótipo do Anticristo
A expressão “tempo do fim” se refere a uma época escatológica, isto é, aponta para um tempo futuro. Do mesmo modo como a profecia dizia respeito aos impérios medo-persa e o grego que já passaram (8.20-23), também, esta mensagem tem uma dupla referência profética. Se Antíoco Epifânio, demonstrou caraterísticas de crueldade e destruição contra Israel, no futuro, surgirá outro governante mundial, que promoverá grandes males ao povo de Israel e ao mundo, até que Jesus Cristo, em sua vinda pessoal, desça para desfazer o poder desse personagem, o Anticristo.
A visão dada a Daniel concentrou-se essencialmente no personagem de Antíoco Epifânio, porque na mente de Deus, a visão apontava, também, para outro personagem que haveria surgir no futuro com as mesmas caraterísticas de Antíoco Epifânio, e chamaria “homem do pecado”, “Anticristo”, “a Besta”(2 Ts 2.9; Ap 13.2,3). Esse personagem escatológico aparecerá tão somente no período da Grande Tribulação quando a Igreja não mais estará na terra, porque, antes que o Anticristo apareça, a igreja de Cristo será arrebatada (1 Co 15.51,52).
“E eu, Daniel, enfraqueci e estive enfermo alguns dias” (8.27). Quando Daniel teve essa visão já tinha quase 90 anos de idade. Naturalmente, sua estrutura física e emocional estava enfraquecida. A magnitude da visão foi tal que Daniel não teve mais forças para suportar tudo aquilo que Deus estava lhe mostrando. Naturalmente, toda aquela visão requereu dele, um estado de êxtase espiritual que, quando voltou ao normal, não tinha forças para ficar em pé. O mesmo aconteceu com João, na Ilha de Patmos.
Nos versículos 26,27 a visão ganha importância porque a ninguém mais foi revelado o futuro como a Daniel.
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Pastor Carlos Roberto Silva
Point Rhema