MINHA ESPERANÇA BRASIL AVIVA O AGONIZANTE EVANGELISMO PÁTRIO

É com muito temor e tremor que me atrevo escrever estas linhas, no entanto, como vivenciei os bastidores do Projeto Minha Esperança Brasil da Associação Billy Graham, na condição de pastor brasileiro e também como um de seus coordenadores regionais, não posso deixar de registrar e até denunciar algumas realidades, as quais poderão contribuir para o meu próprio aprimoramento e talvez de alguns poucos que possivelmente venham ler este artigo.

Haveria algo mais importante no evangelho do que o cumprimento do “IDE” de Jesus Cristo?

A Bíblia diz:

E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Marcos 16: 15.

Acontece que a Igreja cresceu e glorifico a Deus por isso, mas não podemos fechar os olhos para o fato de que ela também se institucionalizou, o que não poderia ser diferente, mas a pergunta que não quer calar é:

Como estamos lidando com a Igreja, agora institucionalizada?

Porventura não estaríamos invertendo as prioridades do Reino?

Em alguns instantes dos meses que antecederam o importante projeto de evangelização Minha Esperança Brasil, como participante, tive a nítida impressão que vi, literalmente, o “IDE” agonizando em nosso país.

Creio até, que o Projeto funcionou mesmo como uma espécie de UTI – Unidade de Terapia Intensiva, no afã de recuperar o anseio pela salvação das almas, principalmente no coração de algumas lideranças evangélicas no país.

Pasmem, mas ao serem abordados, alguns líderes manifestaram motivos dos mais diversos, e diga-se a bem da verdade, vergonhosos, no sentido de justificarem a não participação de suas igrejas no projeto.

Entre elas, destaco algumas:

Estamos envolvidos com uma grande construção de templo.

Ora amados, quem está construindo porventura não teria a preocupação de que este templo venha abrigar pessoas convertidas ao Senhor Jesus Cristo?

Estamos por demais envolvidos com a Obra Missionária no exterior.

Porventura, o que é a evangelização nacional, senão missões urbanas, que fortalecerá a Igreja Local para continuação da pregação do Evangelho de Jesus em terras estrangeiras? A Igreja por fazer missões em terras distantes, não está isenta da evangelização doméstica. De acordo com a Palavra de Deus, nosso compromisso é aqui, lá e acolá, senão vejamos:

Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra. Atos dos Apóstolos 1: 8.

Preste bem atenção aos termos: Tanto, como e até! Como pode alguém se interessar tanto pelos que estão distantes, que nem os conhece, sem se comover de íntima compaixão por aqueles que estão ao seu lado, caminhando a passos largos para o inferno?

Situações assim, me perdoem se entristeço alguns, mas coloca em posição duvidosa, a real motivação da obra missionária que fazem.

Estamos envolvidos em alguns projetos, de forma que precisamos levantar recursos e estamos sem tempo.

Até por uma questão de interesse humano, é lógico e visível que o crescimento da Igreja em qualquer área se dá pelo aumento daqueles que ali se congregam, sejam eles simplesmente congregados, membros ou contribuintes. Para os que assim pensam é bom que fique claro que, sem evangelização o aperto financeiro continuará, e o pior, jamais acabará. O que digo não é maldição lançada, é realidade. As metalúrgicas somente serão valorizadas e terão lucro se produzirem metal, da mesma forma as petrolíferas precisam produzir petróleo e seus derivados. Com a Igreja não é diferente. Precisamos produzir crentes salvos, lavados e remidos com o sangue do cordeiro. Só poderemos alcançar isso evangelizando, e, protanto ganhano almas para o Senhor Jesus Cristo.

Ligue para o Líder de evangelismo

Vi Igrejas que alardeiam possuírem cerca de 1.000 congregações, e a alta cúpula indicar um jovem líder de evangelismo, o qual, ainda que muito bem intencionado, mas sem qualquer “know-how” para liderar um projeto dessa natureza em âmbito ministerial, principalmente em um ministério do porte desse ao qual me refiro. Se o líder máximo não tivesse com tempo para tanto, o que é plausível, que procedesse então o lançamento e pelo menos indicasse alguém da liderança do Ministério e da sua confiança. Quando vi isso, entendi a reação muito mais como uma forma educada de se dizer: Não estamos interessados nesse assunto.

Quanto vai render para a Igreja esse Projeto?

Essa argumentação, ainda que se tenha ouvido não merece qualquer comentário, tal o descaramento da postura.

Não quero me alongar em todas as situações vividas, mas entre as aqui citadas e outras mais, até mesmos de líderes que participaram de reuniões e nada disseram às Igrejas que dirigem, e isso em praticamente todas as denominações com raras exceções, pois em interação com outros coordenadores, entendi que a doença ultrapassa as barreiras denominacionais. Vi até congregações que buscaram material com outras denominações, uma vez que a liderança do seu ministério, ainda que “participando”, em nada se manifestou.

Soube também de grandes denominações já atuantes na mídia televisiva, que não participaram do projeto, alegando já fazerem o mesmo, só que, assistindo seus programas, os vi carregados de Teologia da prosperidade, triunfalismo e até de auto-ajuda, mas nada sobre Calvário, salvação ou sobre o céu.

Com todo o respeito, não quero nem lembrar aqueles que deixaram de participar porque já haviam marcado festas de aniversário da Igreja, da juventude ou do departamento de mulheres.

Todas essas argumentações cairiam por terra, somente por uma simples análise e reconhecimento de que somente Deus poderia usar alguém de fora, com a moral e a capacidade de nos unir, como foi o caso o Pastor Billy Graham, e para tanto ainda carrear recursos para pagar literalmente todas as despesas, no afã de que fizéssemos o que naturalmente deveríamos fazer juntos no dia a dia.

Por esses e outros motivos, sou levado a admitir que o benéfico crescimento da Igreja Evangélica Brasileira, trouxe também junto consigo, o vírus da acomodação e da administração do status que já foi conquistado, ou seja, estamos apenas administrando os resultados.

Paulo plantou, Apolo regou, Deus deu o crescimento, e nós estamos dividindo e subdividindo a colheita.

Mas até quando?

A semeadura precisa continuar!

Hoje, infelizmente, na melhor das hipóteses já estamos vivendo de crescimento biológico, e até mesmo por transferência, o que para mim é muito mais inchaço numérico produzido por pesca em aquário alheio, do que mesmo por crescimento real.

Os maiores eventos que realizamos, tem muito mais sentido festivo de show e entretenimento gospel, do que mesmo de evangelização, e, quando há pregação da Palavra, esta é mais para a própria IGREJA, recheada de uma forte dose de triunfalismo, prosperidade e auto-ajuda.

Que o Senhor tenha misericórdia de nós!

Não nos esqueçamos de olhar o exemplo nada agradável das Igrejas do velho continente, berço da reforma e de grandes avivamentos, as quais entraram pelo caminho da acomodação e da relativização geral e por isso, hoje, templos suntuosos estão sendo vendidos para bares, restaurantes e até mesmo boates e casas de shows, por terem se transformado em apenas cartões postais de uma igreja que não mais existe, portanto desnecessários.

Escrevo estas linhas antes da apresentação dos números e do resultado final do projeto, acreditando sinceramente que será muito grande, porém, bem menor que poderia ser. Para essa análise estou considerando o tamanho do Brasil e da força da igreja brasileira.

Quando falo de evangelismo agonizando, quero fazer justiça com aqueles anônimos que a qualquer custo fazem a sua parte, quer nos hospitais, nas cadeias e penintenciárias, nas praças públicas, com folhetos ou megafones, às vezes sofrendo a discriminação, preconceito e até ironias da própria igreja, que não acredita nesse tipo de evangelismo, mas também não cria nada mais eficaz, que atenda a necessidade. Dou glória a Deus por esses, pois caso contrário, o evangelismo não estaria agonizando, mas acabado.

Não estou simplesmente atirando pedra. Incluo-me e, não somente fiz, assim como doravante procurarei fazer minha parte da melhor maneira possível, até porque não serei inocente depois de tudo que vi e presenciei.

Não tenho convicção se nossa geração terá o privilégio e a oportunidade de participar de outro projeto dessa natureza e com a mesma amplitude do MINHA ESPERANÇA BRASIL, o que para mim o coloca como um divisor de águas em termos de evangelização moderna.

De qualquer forma, os resultados que forem obtidos, será resultado da mão de Deus como resposta de orações sinceras, do trabalho de planejamento, marketing e organização de toda a Equipe Billy Graham com os coordenadores nacionais e daqueles que humildemente acreditaram e aceitaram o desafio do projeto, incentivaram suas igrejas e os LARES MATEUS, os quais em consonância com a Palavra de Deus, abriram suas casas e as colocaram à disposição do Reino para divulgação do evangelho.

Reitero:

MINHA ESPERANÇA BRASIL TROUXE DESPERTAMENTO PARA O EVANGELISMO PÁTRIO EM AGONIA!

Não falo por qualquer instituição a qual pertença, mas por mim mesmo, agradecido a Deus por participar de tão gratificante projeto, que sem dúvida alguma deixará marcas e lições importantes em minha vida pessoal e ministerial.

Que Deus recompense o Pastor Billy Graham e toda sua equipe, ao Pr. Geremias do Couto, nosso Coordenador Nacional, bem como a todos aqueles que se empenharam para tal realização.

Vosso Conservo em Cristo,

Pr. Carlos Roberto Silva